Ao som de bons violeiros

Um dos grandes estilos musicais que fazem sucesso atualmente é o sertanejo. Músicas que de um lado falam de desejo, felicidade, vontade de amar e de se entregar a uma paixão, versam, por outro, com palavras de solidão, medo, traição e em alguns casos, até de morte.

A música sertaneja no Brasil começou a ser produzida a partir da década de 1920, elaborada por compositores rurais e urbanos, sendo chamada por inúmeros nomes, como modas, toadas, cateretês, chulas, emboladas e batuques, cujo som da viola era predominante.

Logo de início, esse estilo de música foi propagado por uma série de duplas, com a utilização da viola e duetos vocais. Dentre os músicos pioneiros nas gravações em disco, podemos destacar Zico Dias e Ferrinho, Laureano e Soares, Mandi e Sorocabinha e Mariano e Caçula, sendo os primeiros a cantarem as chamadas modas de viola, cujas músicas estavam muito ligadas à realidade cotidiana. Músicas como ‘A Revolução de Getúlio Vargas’, ‘A Morte de João Pessoa’, ‘A Crise’ e ‘A Carestia’ (todas publicadas entre 1930 e 1934) falavam dos problemas que assolavam nosso país.

Claro que o sertanejo que ouvimos hoje é muito diferente das músicas tocadas em tempos atrás, até por consequência da evolução dos instrumentos e aparelhagem de som.

 

Etapas

 

Estudiosos em música dividem o sertanejo no Brasil em três grandes etapas, além de reconhecer atualmente o chamado sertanejo universitário.

A primeira fase se inicia em 1929, a partir das gravações feitas pelo jornalista e escritor Cornélio Pires sobre ‘causos’ e fragmentos de cantos tradicionais rurais do interior de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso. Suas letras evocavam o modo de vida do homem do interior, assim como a beleza bucólica e romântica da paisagem interiorana. Destacaram-se nessa época as duplas Alvarenga e Ranchinho, Torre e Florêncio, Tonico e Tinoco, e Vieira e Vieirinha, embora tenham gravado em épocas posteriores.

A segunda etapa teve início após a Segunda Guerra Mundial, com a incorporação de novos estilos, gêneros (como a guarânia e a polca paraguaia, além do corrido e a ranchera mexicana) e a utilização de novos instrumentos, como o acordeon e a harpa. O tema das músicas foi se tornando gradativamente mais amoroso. Destaque nessa época para Cascatinha e Inhana, Irmãs Galvão, Irmãs Castro, Sulino e Marrueiro, Palmeira e Biá, o trio Luzinho, Limeira e Zezinha e o cantor José Fortuna.

No final dos anos de 1960, temos início da chamada terceira era com a introdução da guitarra elétrica e o chamado ritmo jovem, uma fase mais moderna da música sertaneja. Nomes como Sérgio Reis e Renato Teixeira tiveram grande destaque no repertório sertanejo, contribuindo para uma maior abrangência do tema.

Vale destacar que nesse período, as apresentações dos cantores eram feitas em circos, alguns rodeios e nas rádios AM. A partir dos anos 80, essa penetração se estendeu para as rádios FM e, também, para a televisão, seja em apresentações em programas, seja em trilhas sonoras de novelas.

A partir daí, houve uma exploração comercial muito grande em cima do sertanejo, surgindo inúmeros artistas de grande nome nacional, como Trio Parada Dura, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, Chrystian e Ralf, entre outros, além das cantoras Nalva Aguiar e Roberta Miranda.

Atualmente, tem ganhado cada vez mais espaço o sertanejo universitário, oriundo da terceira era do sertanejo, com destaque para a idade jovem dos cantores, tendo como seus precursores a dupla João Bosco e Vinícius.

Esse estilo não conta com letras tão regionais e situações vividas por caipiras. Geralmente, as músicas tratam de assuntos românticos, interligado com a cultura jovem.

 

Catanduva

 

Embora muitos não tenham conhecimento, Catanduva teve várias duplas sertanejas que se apresentavam nas rádios locais fazendo muito sucesso.

Exemplo disso é a publicação da revista A Sertaneja, de autoria do compositor catanduvense Zacarias Damião, lançada em junho de 1973. Ela retrata inúmeras duplas e grupos sertanejos catanduvenses que faziam sucesso em nossa cidade e região.

De acordo com a revista, nas décadas de 1960 e 1970 (época em que a revista retrata), o terreno catanduvense era fértil no que se diz respeito à música sertaneja.

Um grupo que fazia a alegria dos ouvintes era o Trio Brilhante, composto por Ouro, Ourinho e Eleninha, onde estes cantavam músicas de sua própria autoria. O trio se apresentava na Rádio Difusora de Catanduva aos domingos de manhã no programa Encontro com o Trio Brilhante, apresentado pelo Sebastião Moreira.

Outra dupla que soltava a voz em Catanduva era Cambuí e Cuiabá, que animava a população com sua música sertaneja. Cambuí já tinha formado dupla com Jorginho e até com seu próprio filho, Cambuizinho.

Ainda tínhamos o grupo Paulo Felizardo e as Irmãs Felizardo, mais um conjunto que se apresentava na Rádio Difusora de Catanduva em dois programas dominicais, apresentado pelo animador Sebastião Dolte.

Se apresentando na mesma rádio, Renato e Renatinho também levavam sua boa música aos ouvidos dos apaixonados por música sertaneja, programa este apresentado pelo Nho Teimoso.

Vale destacar ainda o Trio Catanduva, formado por Varjão, Varjinha e Loirinha, trio tradicional, que de início se apresentava na Rádio Difusora e posteriormente na Emissora A Voz de Catanduva, sempre mantendo grande sucesso.

Além de todas essas duplas e grupos citados, Catanduva ainda contava com a presença de Jaó e Jaú, Sereno e Celeste, Abel e Caim, Trio Romântico (formado por Demelo, Ourivaldo e Nelson Roberto), entre outros, todos representando nossa cidade nas chamadas ‘modas sertanejas’ daquele período.

 

Fotos:

Renato e Renatinho se apresentavam na Rádio Difusora de Catanduva aos domingos às 20h, programa apresentado por Nho Teimoso

Foto da dupla Jaó e Jaú, juntamente com o locutor Maurílio Vieira (centro), mais conhecido como Nho Teimoso

Eleninha, uma das integrantes do Trio Brilhante, que juntamente com Ouro e Ourinho, traziam bom som aos ouvidos dos apaixonados por música sertaneja

Foto do tradicional Trio Catanduva, formado por Varjão, Varjinha e Loirinha

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.