Ano que vem tem eleição
No dia 4 de outubro de 2024, os municípios elegerão seus novos prefeitos e vereadores. Não é apenas uma data no calendário eleitoral. Não se trata de simplesmente, mais uma vez, ir à seção eleitoral e, após apertar o botão verde de “confirma”, ouvir o sininho sibilante do voto computado (ainda que o voto seja branco ou nulo) e, então, voltar para casa e esperar o resultado do pleito através dos aplicativos de contagem de voto, das redes de televisão e rádio ou, como é comum aqui no nosso interior, esperar em frente às escolas ou aos cartórios eleitorais até que alguém saia gritando vitória ou chorando derrota.
Ano que vem, durante a campanha, visões e práticas políticas distintas poderão ser eleitas ou reeleitas. Situação e oposição travarão suas batalhas retóricas no boca a boca e no porta a porta, nos palanques com ou sem caixa de som, na militância de rua, nos discursos bem ou mal decorados, nas peças de marketing hardcore ou água-com-açúcar, nas redes sociais e, em alguns municípios, nos debates oficiais que farão as devidas acareações entre os candidatos e seus backgrounds -- telhados de vidro estarão à mostra, planos de governo serão demonstrados e eventuais cumprimentos de promessa serão remostrados.
As articulações já estão acontecendo. As estratégias estão sendo montadas. Os planos estão sendo desenhados. Os projetos estão sendo arquitetados. Um grande jogo de xadrez silencioso está se desenvolvendo agora e, peça após peça, em breve algum grupo conjugará forças suficientes para que alguém (porque sempre é um indivíduo) finalmente profira o “xeque-mate.” Da cooptação de aliados à composição de chapas, das cores gráficas aos jingles, das sutilezas psicológicas das narrativas à triagem de números e pesquisas, tudo proclama o óbvio: a campanha (ao menos no sentido mais “bélico” da palavra) já começou.
Nos finalmentes, entre a penúltima e a última semana da campanha eleitoral e entre os últimos três dias anteriores à votação, o povo fará suas contas positivas e negativas. Neste período, entrará em cena o decisionismo popular majoritário (a maioria, uns 65%, em média, finca bandeira neste intervalo). Todos os cidadãos comuns, ou seja, aqueles não envolvidos diretamente com interesses políticos pessoais ou familiares, têm um gráfico ou tabela mental, uma espécie de balança pensa, de calculadora viciada, onde os dados são inseridos e, em seguida, em um misto de critérios objetos com critérios subjetivos, uma decisão é emanada. O cidadão pondera aspectos prático-concretos como, por exemplo, o buraco no asfalto que ainda não foi tapado (ponto negativo) e a melhoria na dispensação de medicamentos (ponto positivo), a diminuição de itens na cesta básica da Assistência Social (ponto negativo) e a reforma da praça da vizinhança (ponto positivo), etc, etc, etc. E este mesmo cidadão, antes ou depois ou concomitantemente aos prático-concretos, pondera aspectos teórico-abstratos igualmente positivos ou negativos: quem é o vice, essa turma votou em quem para presidente e governador, é parente de fulano, é amigo de ciclano, é inimigo de beltrano, foi do partido tal e agora é do partido qual, nunca apertou minha mão, já sorriu para mim na rua, foi na casa do vizinho e não veio na minha, tomou café no bar da minha tia que falou dele, tem cara disto ou daquilo, me disseram que fez ou não fez, etc, etc, etc.
No dia 4 de outubro de 2024, alguns candidatos se elegerão novos prefeitos e vereadores. Duas frases literárias cabem bem ao nosso contexto eleitoral nacional: “Que os jogos comecem!”, utilizada há mais de dois milênios nas Olimpíadas e, mais recentemente, na franquia de filmes de terror “Jogos Mortais” (2003); e “Deixai toda esperança, vós que entrais!”, verso que Dante Alighieri escreveu nos portões da cidade dolente do Inferno, na sua “Divina Comédia” (1304).
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