Analfabetismo da alma
Neste dia 20 de novembro, precisamos alimentar e estimular as discussões em torno da desigualdade racial. A imprensa também não pode fugir desse compromisso. Até porque não há como falar em Dia da Consciência Negra sem adotar postura crítica, afinal, há quem diga que não há muito a se comemorar nesta data. Quem não se lembra da famigerada campanha “Somos todos macacos”, supostamente idealizada por uma agência de publicidade e divulgada por Neymar após ato racista contra o jogador Daniel Alves, há exatos 10 anos? De lá para cá, pense, as coisas realmente mudaram? Ou o racismo enfrentado por Vinicius Jr. na Europa é um mero acaso? Claro que não. O jogador é uma voz ativa no combate ao racismo e declarou, ontem, que “as pessoas pretas sofrem há muito tempo, e tem que chegar o momento em que tudo isso tem que acabar”, pedindo união contra o preconceito. “Eu sei da minha importância, mas eu sempre falo que é uma luta de todos, porque eu, sozinho, não tenho como combater tudo isso que todos os negros vêm sofrendo”, afirmou. É triste constatar o quão atrasados somos por ainda termos que nos debruçar sobre isso. Mas não à toa. A forma com que as pessoas transgridem limites e sobrepujam o outro devido à cor de pele é desconcertante. O racismo precisa ser abordado cotidianamente nas salas de aula, de modo a preparar crianças de todas as cores de pele para dizimar o preconceito. Quem sabe assim, corretamente educados, deixaremos de classificar as pessoas com base na quantidade de melanina da pele e passaremos, inclusive, a evitar rótulos. Se soubéssemos, todos, como é sentir a rejeição, talvez evoluíssemos mais rápido. Talvez, ainda, poderemos um dia celebrar o fim do racismo e o surgimento, enfim, de uma consciência negra universal, em que todos os seres humanos compreendam a importância da data – para celebrar conquistas e não para reforçar segregação. O racismo é, de fato, o analfabetismo da alma.
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