Estava no centrão e escutei alguém chamar o meu nome. Era um técnico de enfermagem com quem trabalhei há uns 15 anos, nos tempos da Unidade Básica de Saúde (UBS). Na hora gelou meu sangue. Não lembrava direito do nome dele, apenas que trabalhamos juntos.

Dá até uma certa confusão na cabeça da gente. Depois de uma certa idade, vivendo uma vida onde conhecemos muitas pessoas, você perde o controle do que vê e do que não vê. Percebe o que dá, o que está perto, o que passa na sua frente. Fica de fora um monte de gente importante na sua vida.

O esquecimento obviamente é resultado da ausência. Mas não predomina sobre a alegria de rever um amigo ou um conhecido com quem tivemos boa convivência. Mesmo quando passamos algum dissabor junto com esta pessoa no passado, o tempo trata de cicatrizar as feridas. No fim das contas, a gente aprende que tem coisa muito mais importante na vida. Tudo passa.

Fico pensativo quando encontro alguém que não vejo há anos, mas que mora na mesma cidade. Não importa o tamanho da cidade. Será que é tão grande a ponto de não podermos ver as pessoas queridas?

Para mim em particular, o Facebook ajudou bastante. Consegui localizar a maioria dos meus amigos de infância, da adolescência, da faculdade e até parentes distantes. Nos 2 sentidos, de parentesco mesmo e de distância de onde vivem. Dá para saber em que cidade estão morando, se casaram, as fotos dos filhos, da família. Vejo que alguns, depois dos 50 anos, ingressaram no mundo dos esportes e se tornaram maratonistas ou ciclistas. Outros já são avós. Mas todos fazendo as mesmas coisas que você, ou seja, tocando a vida. Você os cumprimenta no aniversário. O Facebook lembra-nos do aniversário das pessoas. Que maravilha!

Chato mesmo é não ter o que conversar quando encontramos alguém ausente das nossas vidas há muito tempo. Deveria existir um roteiro para reencontros. Primeiro pergunta o que está fazendo da vida. Depois da família. Pergunta dos filhos e se for o caso, netos (infalível). Pronto! Volta tudo ao normal. Amigo que é amigo, não tem tempo nem distância que separa. Pode até se estranhar no começo, mas em pouco tempo tudo volta ao normal. Caso contrário não era amigo.

Deveria existir um despertador de ausência. Deu um certo tempo que você não vê a pessoa e aí apita alguma coisa para te lembrar de ligar para o sujeito. Nem que seja para tomar um cafezinho. Senão, sobra só trombada no supermercado, casamento e velório para você reencontrar as pessoas que ama. E aí, de novo, você se pergunta porque vê tão pouco as pessoas queridas, que moram na mesma cidade.

O jeito é botar a culpa toda na tal da correria. Infelizmente não tem outra desculpa para justificar este pecado. Que vergonha!