Amar é...
Eu te amo, mas cada um que pague a sua conta.
Enquanto o ego sofre com as identificações, o narcísico não ama porque não aguenta receber um não.
O amor em tempos de sociedade de consumo está cada vez individualista, e quanto mais observo como as pessoas se portam em suas relações, mais desconfio do amor enquanto dimensão de uma experiência genuína.
Amor é construção, e seu significado se alinha a uma constância de empenho para que o amor transcenda as barreiras do egoísmo sendo possível se abrir para o outro.
Constantemente escuto relatos das divisões do desamor, chamado equivocadamente de amor enquanto expressa uma tentativa de reproduzir sentimentos de uma experiência de si mesmo num eu que não se olha, refletindo um caos interno enquanto atribui ao outro a culpa dos próprios fracassos.
Para amar precisamos entender que as duas forças, amor e ódio partem do mesmo lugar, e sua medida distinta se concretizará a partir de uma construção que enxerga e aceita os próprios limites, transformado em dinâmica que transgride o impulso destrutivo de si mesmo.
Antes de estar com o outro, precisamos estar e entender a nós mesmos para então construir com o outro uma experiência que sustente os altos e baixos de qualquer relação, com intenções e empenho que estejam nos planos de construção da dupla.
Amar o próximo e a si mesmo é uma tarefa carregada de equívocos porque, para estar com o outro, precisamos antes saber quem somos a partir do próprio conhecimento, identificando erros e acertos que projetamos no outro pelo desconhecimento de nós mesmos.
Nascemos a partir de um outro que nos cuidou sinalizando o começo do processo de individuação em relação a nós e ao outro, e foi nesta primeira relação que nos constituímos.
É ambíguo, mas ao mesmo tempo a equação que torna possível entender a experiência de amor entre indivíduos.
Uma mãe (ou quem cuida) quando ama seu bebê, ensina muito porque, ao receber toda a carga constitutiva e destrutiva dele, decodifica e transforma, devolvendo o resultado desta experiência vivida pela dupla desde o início.
Na experiência de amor romântico, quando apaixonados, idealizamos o outro na medida dos nossos afetos e idealizações esquecendo que ele é um outro que desconhecemos.
Amar é primeiramente ser capaz de entender a si mesmo, compreendendo a medida do que desejamos com o outro quando o tocamos em nosso desejo de amar, quando compartilhamos experiências a partir do que vivemos dentro, porque se não for assim, impomos o nosso modo ao outro, equacionamos o próprio egoísmo a ponto de viver experiências de desamor mesmo quando chamamos de amor, desiludidos pelo que construímos do outro em nós, quando ainda estávamos cegos e apaixonados.
As formas de amar estarão sempre vinculadas na medida do que queremos quando renunciamos as idealizações para conseguir estar com o outro. Do contrário, continuamos cegos e apaixonados, sem amar.
Música “Amar pelos Dois” com Salvador Sobral.
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