‘Amanhã tudo volta ao normal’

“Mas é carnaval, não me diga mais quem é você

Amanhã tudo volta ao normal...”

Chico Buarque

Compositor e cantor brasileiro (1944–)

O presidente Luís Inácio Lula da Silva vai entregar o Prêmio Camões de Literatura ao cantor e compositor brasileiro Chico Buarque.

O artista foi laureado com esse importante prêmio há quatro anos, em 2019, mas o ex-presidente Jair Bolsonaro se recusou a assinar o documento que certifica a premiação que visa destacar autores da língua portuguesa. Tradicionalmente, os presidentes de Brasil e Portugal assinam esse documento.

José Saramago, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Ferreira Gullar, Mia Couto e o pindoramense Raduan Nassar, entre muitos outros, já foram contemplados com a importante honraria.

A cerimônia acontecerá no final do mês de abril, na cidade de Lisboa, Portugal, época em que o nosso atual chefe de estado fará uma visita ao país europeu.

O que está por trás da notícia, e é o que interessa de fato, não é a questão política e sim o desprezo à cultura e uma necessidade urgente de se reconhecer a importância de valorizar os talentos nacionais, acima de tudo, e proporcionar aos literatos, bem como a todos criadores o devido respeito por suas obras. O ofício do artista é de fundamental relevância para uma sociedade, pois é o belo inspirando e despertando consciências.

Contudo, é preciso reconhecer que a política define, sim, os rumos culturais de um país de acordo com os interesses, sejam partidários ou ideológicos, o que definitivamente não deve prevalecer sobre as verdadeiras necessidades do povo. Quem pode definir ou direcionar o que a sociedade realmente quer, culturalmente? Aqueles que nem sequer leem um livro ou frequentam museus ou assistem a espetáculos artísticos? O outro que não sabe, por exemplo, quem é a escritora Adélia Prado, como vimos recentemente um político mineiro expondo publicamente sua ignorância cultural? Quem? Como deixar de premiar um dos mais importantes nomes da cultura brasileira, no caso Chico Buarque, por motivação política?

Quem teria audácia suficiente para contestar a genialidade de Chico Buarque?

Leis de incentivo cultural existem e o apoio aos artistas é fundamental para a sobrevivência de uma nação, no entanto, precisamos de mãos, olhares e consciências que saibam como direcionar esse suporte, esses estímulos, provocando um grande enriquecimento daquilo que já nos é tão caro e que o Brasil tem em abundância: arte popular, gerações e gerações de grandes talentos que se multiplicam e se renovam constantemente, muitas vezes lutando contra a fome e a miséria, toda sorte de obstáculos

de um trabalho naturalmente sofrido, historicamente sufocado, mas que nos últimos quatro anos chegou às raias da discriminação cruel e perseguidora.

Novos tempos, novos ares... “amanhã tudo volta ao normal” pois é Carnaval, o maior teatro da Terra e, gostando ou não, é uma festa do povo brasileiro que precisa voltar a brilhar nas avenidas e na alma do povo brasileiro.

A cultura, a partir de 2023, voltou a receber o seu valor, o reconhecimento de sua importância e a nós, artistas, cabe o papel efetivo de criar, fazer rir, chorar, iluminar e sensibilizar cada coração, de crianças, jovens, adultos, famílias, com a Arte mais genuína e indispensável.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.