Almas gêmeas

A adolescente Juliet (Kate Winslet) muda-se com os pais da Inglaterra para a costa da Nova Zelândia. Na nova escola, conhece outra adolescente, Pauline (Melanie Lynskey), e ambas têm uma afinidade fora do normal. Elas desenvolvem uma forte amizade; juntas criam um mundo próprio, afastando-se da realidade. Quando a mãe de Pauline a flagra beijando Juliet, o mundo desaba sobre as duas, que serão obrigadas a se afastar.

Filme marcante dos anos 90, apontado por críticos do mundo todo como um dos mais importantes daquela década. Lançou Kate Winslet no cinema e teve como inspiração um fato verídico chocante que mexeu com a opinião pública da Nova Zelândia. O ‘Caso Pauline Parker e Juliet Hulme’ envolveu uma amizade que ultrapassou os limites e virou uma obsessão. Ocorreu em 1954 na costa leste da ilha sul de Nova Zelandia, em Christchurch, uma cidade de médio porte, de estilo inglês. Na época Pauline tinha 16 e Juliet, 15. Juliet é inglesa, vem com os pais para a cidade, tem comportamento forte e transgressor, desafiando professores, amigos e a família. Já Pauline é passiva, aceita tudo, vive bem com os pais. Quando a amizade das duas se fortalece, tudo poderá acontecer. Elas acabam criando um mundo paralelo, fogem de casa para viver aventuras pelos bosques, conversam com cavaleiros de pedra – um deles é o ator Orson Welles, de quem são fãs, elas inventam lugares com flores, uma delas adora as músicas de Mario Lanza e até o ‘veem’ cantando em sua frente. Acabam tendo um affair e são flagradas se beijando, causando um alvoroço na família – a mãe de Pauline chega a levar a menina a força a um psiquiatra, que detecta nela o ‘homossexualismo’, na época tido como doença. Por isso, os pais de ambas resolvem afastar as duas – cuidado, spoiler - e como não havia mais a possiblidade de se encontrarem, bolam um assassinato terrível para fugirem e assim viverem juntas. O crime cruel ocorreu em 22 de junho de 1954, as duas mataram a mãe de Pauline com mais de quarenta tijoladas na cabeça.

O filme, um drama que vai mudando o tom para suspense no decorrer da história, tem enorme veracidade, pois é uma adaptação dos diários das garotas. Rodado na Nova Zelândia, país natal do diretor Peter Jackson, antes de se tornar conhecido pelas trilogias ‘O senhor dos aneis’ e ‘O hobbit’ – nos anos 80 ele fez diversos filmes de terror, terrir e scifi em seu país, como ‘Fome animal’ e ‘Bad taste’. O filme venceu o Leão de Prata em Veneza e foi indicado ao Oscar de melhor roteiro – escrito por Jackson e Fran Walsh, casada com ele desde os anos 80 – os dois trabalham juntos, inclusive escreveram ‘O senhor dos anéis’ juntos.

Kate Winslet, nascida na Inglaterra, tinha na época 18 anos, foi seu primeiro longa, depois de fazer séries; também foi a estreia de Melanie Lynskey, atriz neozelandesa, na época com 16 anos, e que dá um show de interpretação – as duas são ótimas.

Lançado recentemente em DVD pela Classicline na versão intermediária, de 102 min. – há um estendida do diretor, de 108 min, que aqui não encontramos, e a de cinema, de 99 min.

Almas gêmeas (Heavenly creatures). Nova Zelândia/Alemanha, 1994, 102 minutos. Drama/Suspense. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Peter Jackson. Distribuição: Classicline

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva