Ainda estou aqui
O filme “Ainda estou aqui” nos coloca diante de uma experiência única a medida que cada personagem estabelece conosco uma conversa individual que passa pela idade que um dia tivemos ou ainda vamos ter, e nos remete a dores que impregnaram em nós lembranças de um tempo duro de ser vivido.
Eunice é sem dúvida a grande personagem do filme, uma mulher que teve sua vida roubada e que foi entendendo para onde ela caminharia, e junto aos seus filhos, foi aprendendo as durezas de ser sobrevivente.
Deixar a própria casa foi sem dúvida uma das cenas mais difíceis de assistir, me deixando inquieta diante de tantas sonhos e desejos roubados que se diluíram na urgência de sobrevivência e que fizeram com que Eunice continuasse a lutar pela sua família.
Quando desejos e sonhos são interrompidos pelas atrocidades dos outros fica-nos um enorme vazio que vem acompanhado pela falta de respostas, e mesmo continuando a sorrir para a foto, simbolicamente mostrando resistência e lembrando que continuaram vivos e existentes, o buraco que se abriu dentro de cada um dificilmente foi restabelecido. E o que ficou claro para mim é a sobrevivência ilegível diante do que foi roubado na vida daquela família.
O mar em frente à casa, o suflê que serviam em jantares especiais, o bronzeamento com coca cola, os amigos queridos, a funcionária amorosa, o jogo de luzes nas cenas que traduziam sentimentos, o pimbão e o sonho de construir a futura casa ficaram na experiência do vazio que vivenciaram junto com o desaparecimento de Rubens que falavam de vidas que mudaram para sempre e que não puderam viver o que sonharam.
Eunice nos últimos anos se desconectou, e penso eu, com muito cansaço e vazios acumulados.
Ela foi uma mãe que desempenhou muitos outros papéis na urgência de quem buscava respostas, e mesmo sem tê-las, entendia tudo o que se passava. E não podendo escolher, aguentar o vazio foi sem dúvida sua grande ousadia.
São histórias que não podem ser esquecidas, um filme maravilhoso, com elenco escolhido de maneira tão espetacular que juntos viraram a família Paiva, impossível separa-los, já ganharam, já venceram!
Selton Mello e Fernanda Torres foram excepcionais como Rubens e Eunice. Obrigado Marcelo Paiva por nos contar sua história, e Walter Salles por traduzi-la neste filme maravilhoso.
Música “É preciso Dar um Jeito” com Erasmo Carlos.
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