Adeus apressado

Num piscar de olhos, quem pegou o noticiário ao longo do feriado, soube da morte do papa Francisco e já se envolveu nas discussões sobre quem será o próximo papa, quais são os nomes favoritos na corrida papal, como num jogo de apostas. Nem deu tempo para o luto. É como se um parente tivesse falecido e já se falasse que outra pessoa ocupará o seu lugar. Claro que ainda veremos velório público, homenagens e sepultamento, mas num enredo entrelaçado com o futuro do cargo mais importante da Igreja Católica. Afinal, não há tempo a perder. Como foi que nos tornamos tão imediatistas? Por que passamos a ter tanta pressa? Não é incomum as pessoas falarem que os dias estão passando depressa, mas a verdade é que nós mesmos estamos contribuindo com essa aceleração. Acordamos e dormimos com os olhos vidrados no celular, com as “notícias” das redes sociais, com as fofocas eletrônicas, na vida dos outros. Não temos tempo para ler notícias completas com textos mais longos, não dá tempo de nos dedicarmos àquela profundidade de outrora, manchetes e alguns destaques bastam, poucas linhas parecem ser suficientes. Se puder ser em vídeo bem resumido, melhor. Que triste realidade, essa, não? Até o luto precisa ser apressado porque a vida tem de continuar, nem que seja às pressas, sem tempo a dedicar para si mesmo, sem descanso porque o trabalho não espera. Os problemas psicológicos, se vierem, a gente enfrenta lá na frente, não é mesmo? A vida, bem vivida, não poderia ser nesse ritmo frenético que leva à frieza ou desencadeia problemas. Cada coisa tem seu tempo, cada pessoa tem sua cadência, seus limites. A dor não desaparece de uma hora para outra, nem na mesma hora para todo mundo. Afinal, somos iguais, mas tão diferentes. E todos precisamos de tempo, cuidado, cautela e fôlego para percorrer essa maratona que é a vida nos tempos de hoje. Mas é preciso saber aproveitá-la bem, pois a linha de chegada está logo ali.
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