O Carnaval é considerado uma das festas mais populares do Brasil, possuindo grande potencial para promover diversão, cultura e união entre as pessoas. Mas, infelizmente tem sido lembrado como uma época em que abusos dos mais diferentes tipos são cometidos, especialmente relacionados ao sexo e uso de bebidas alcoólicas. As campanhas preventivas realizadas pelo Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais da saúde são essenciais para promoção da saúde e intensificar o alerta em relação aos abusos cometidos nesta época festiva. Entretanto, é igualmente importante refletir sobre os benefícios que a folia pode trazer à saúde física e mental, além de seu papel cultural.

 De acordo com um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade, representando cerca de 9,3% da população. Entretanto, este percentual pode ser ainda maior, pois mais de 46% dos brasileiros relataram sintomas de ansiedade no último ano. Assim, encontrar alternativas de lazer e socialização – como os blocos de rua e bailes carnavalescos – pode servir de alívio para a tensão diária, contribuindo para uma melhoria do bem-estar.

Estudos apontam que momentos de descontração, música e interação social podem favorecer a liberação de endorfinas, conhecidas por reduzirem o estresse e promoverem sensação de prazer. Nesse sentido, o Carnaval pode funcionar como um grande agente de promoção da saúde mental, quando celebrado com responsabilidade. Infelizmente, a festa popular encontra-se cada vez mais restrita a pequenos grupos, seja pela localização em grandes centros urbanos, seja pela elitização dos tradicionais bailes de clubes. Isso acaba privando muitas pessoas de participar de uma manifestação cultural que, além de divertir, pode gerar bem-estar coletivo.

Dessa forma, torna-se essencial repensar a forma como as campanhas e discursos públicos sobre o Carnaval são estruturados. Além de prevenção às IST’s , que deve ser amplamente divulgada e incentivada, é fundamental reconhecer o papel positivo que a festividade exerce na socialização, na redução do estresse e na preservação de tradições locais. Garantir um Carnaval acessível a todos, com blocos de rua organizados e apoiados pelos órgãos públicos, não só amplia o alcance dessa experiência cultural, como também contribui para a saúde mental de muitas pessoas e grupos sociais, os quais possuem apenas nesta época possibilidade de ”lançar-se” na folia.

Pensar em saúde no pleno Carnaval, é também pensar no acesso a esta festa de forma ampla, segura e saudável, respeitando o direito à cultura do nosso povo brasileiro.

Foto: Reprodução/Sesa/ES