Antigamente, a cidade não contava, como nos dia de hoje, com uma série de locais para se realizarem eventos, palestras e workshops. 

Para poder acomodar um grande número de pessoas, utilizava-se muito das instalações de um dos mais belos e imponentes prédios que Catanduva já possuiu: o Teatro República, que se localizava na Praça da República, onde hoje se encontra o Banco Bradesco. 

O prédio era muito utilizado por artistas, políticos, educadores e pensadores para ministrarem suas palestras ou realizarem seus comícios. 

Foi exatamente o que aconteceu em 6 de agosto de 1934, quando se deu, em suas instalações, a primeira reunião da Ação Integralista Brasileira, que naquela época contou com a ilustre presença de Plínio Salgado, um dos maiores nomes do Integralismo nacional, além de grande intelectual brasileiro. 

O Integralismo – movimento de direita que tinha como tema “Deus – Pátria – Família” – vinha ganhando adeptos em várias regiões do Brasil, inclusive aqui em Catanduva, que pela grande atuação dos jovens Ítalo Záccaro e Antônio Mastrocola, a ideologia integralista era cada vez mais divulgada pela região. 

Ítalo Záccaro, na época estudante de Direito, participou da forte marcha que aconteceu nas principais ruas de São Paulo, sob a liderança de Plínio Salgado, considerada a primeira marcha integralista do país.  

Já Antônio Mastrocola, era o mais jovem chefe integralista do país, que com apenas 15 anos, “realizou um trabalho de esforço para a construção nacional”, nas palavras do advogado Alfredo Buzaid. 

Casa lotada 

No dia da reunião no Teatro República, a casa estava lotada: inúmeras pessoas de Catanduva e região vieram prestigiar esse grande defensor da causa integralista. 

Tudo corria bem, até o momento em que Plínio Salgado começou a fazer duras críticas ao Partido Comunista e sua forma de pensar o mundo e a sociedade. 

Nesse momento, o carteiro Anardino, muito conhecido na cidade por suas atividades políticas, não se conteve com o discurso e começou a causar certo tumulto dentro do teatro. Atacava com total falta de educação o orador, querendo causar grande tumulto na reunião. 

Tinha como intenção tumultuar o ambiente, utilizando-se de expressões desconexas e frases sem sentido, que só terminou com sua retirada para fora do recinto, feita pela polícia. 

Discussões 

Depois que Anardino foi colocado para fora do teatro, Plínio voltou a discorrer sobre suas convicções e sobre a tão falada, naquele momento, Ação Integralista Brasileira. 

O que é interessante notar é que naquela reunião não estavam presentes apenas os simpatizantes do Integralismo, mas inúmeras pessoas curiosas em conhecer a doutrina, além de opositores, que diferentemente de Anardino, souberam esperar o momento certo para fazer, dentro da educação e do bom senso, colocações a respeito do seu ponto de vista e opinião. 

Foi o caso, por exemplo, do advogado Damaso de Oliveira Machado, grande opositor dos ideais e convicções integralistas, que inclusive no mês anterior havia organizado nesta cidade o diretório municipal do Partido Socialista, que contava com outros companheiros, como Vicente Giglio, Abílio Marques Girão, José Gagliardi, Aurino Duarte de Oliveira e Cacilda Rezende Pulino. 

Na hora apropriada, ou seja, no final da palestra, onde foi-se aberta a oportunidade de todos fazerem uso da palavra, o Dr. Damaso expôs o seu ponto de vista, contrários, por sinal, às ideias de Plínio Salgado, mas foi ouvido tanto pelo orador, quando pelos defensores do Integralismo com todo o respeito merecido. Plínio, dentro desta mesma educação e cordialidade, debateu com esse advogado, realizando um digno debate de ideias. 

Terminada a reunião, em clima totalmente pacífico, Plínio Salgado, juntamente com seus companheiros e acompanhados por seus defensores locais, se dirigiram ao Café da Esquina, ponto tradicional de encontro, principalmente políticos, em Catanduva, para saborearem um delicioso café. 

Sobre Plínio 

Plínio Salgado foi um escritor, jornalista, teólogo e político conservador brasileiro que fundou e liderou a Ação Integralista Brasileira (AIB), partido de extrema-direita inspirado nos princípios do movimento fascista italiano.  

Inicialmente um adepto da ditadura de Getúlio Vargas, foi mais tarde preso e obrigado a se exilar em Portugal, acusado de promover levantes contra o governo.

Após retornar ao Brasil, lançou o Partido de Representação Popular (PRP), sendo eleito para representar o Paraná na Câmara dos Deputados em 1958 e reeleito em 1962, desta vez para representar São Paulo.

Foi também candidato à presidência da República no pleito de 1955, obtendo 8,28% dos votos. Após 1964, se juntou à Aliança Renovadora Nacional (Arena), obtendo mais dois mandatos na Câmara. Se aposentou da vida política em 1974, apenas um ano antes de sua morte. Foi membro da Academia Paulista de Letras, tendo também fundado alguns jornais.