A visita de João Goulart em Catanduva

Nas eleições presidenciais de 1960, um candidato se destacava no cenário político: Jânio Quadros, que se apresentava ao povo como oposição aos herdeiros do getulismo.

Era um político conservador e austero, que contava com o apoio da UDN, e teve como slogan de sua campanha uma vassoura, que, segundo ele, varreria as irregularidades cometidas por seus antecessores.

Carismático, Jânio despertava grande entusiasmo na multidão. Nas urnas, confirmou o favoritismo, sendo eleito com 48% dos votos. Seu vice, na presidência, João Goulart, conhecido como Jango, pertencia ao PTB.

Coerente com sua promessa de campanha, Jânio adotou uma série de medidas para tentar controlar a inflação, o que, infelizmente, foi trazendo grande descontentamento popular.

Além disso, outra promessa de campanha foi de moralizar a administração pública, objetivo que também não conseguiu nenhum sucesso, frustrando a expectativa dos eleitores. A antipatia do governo aumentou com medidas impopulares, como a proibição de lança-perfume no Carnaval e de biquíni nas praias. Em pouco tempo, Jânio estava isolado.

Isolamento

Seu isolamento aumentou ainda mais quando ele condecorou o líder guerrilheiro Che Guevara, um dos principais heróis da Revolução Cubana. Para os conservadores, conceder a mais alta distinção brasileira àquele que se tornara símbolo da luta revolucionária e socialista na América Latina era uma afronta.

No dia 25 de agosto, por não aguentar a pressão da oposição, Jânio encaminhou ao Congresso sua carta de renúncia, que tinha por objetivo, deflagrar uma série de manifestações populares a favor de sua permanência no cargo, o que fortaleceria seu poder.

Na prática, isso não aconteceu, e, a partir do pedido de renúncia, o Congresso nomeou o deputado Ranieri Mazzili para ocupar a Presidência, pois Jango estava no exterior, em viagem oficial à China.

Após uma série de descontentamentos e manifestações, Jango assumiu a presidência em 07 de setembro, mas sob a forma de Parlamentarismo, ficando a cargo de Tancredo Neves a função de primeiro-ministro.

A crise na democracia

Com a posse de João Goulart, um dos primeiros atos foi elaborar um plebiscito para decidirem se continuavam com Parlamentarismo ou se voltavam para o Presidencialismo, sendo escolhida a segunda opção.

No governo, Jango teve de enfrentar dois grandes problemas na área econômica: a alta da inflação e a queda do crescimento do PIB. Decidiu adotar o Plano Trienal, mas não conseguiu êxito nesta tentativa.

Com a batalha perdida, Jango procurou recuperar o prestígio, recorrendo a medidas nacionalistas. Entre as mais importantes, estava a reforma agrária que, segundo o governo, estimularia a produção agrícola e ampliaria o mercado consumidor de produtos industrializados.

Entre as ações do governo, foram importantes também a promulgação do Estatuto do Trabalhador Rural, que estendia ao campo os benefícios dos trabalhadores urbanos, e o fortalecimento da política externa independente, desafiando as orientações de diplomacia dos EUA.

Movimentação

As medidas de esquerda desagradaram os conservadores do país. Em resposta, a direita deu início a uma série de manifestações, visando criar um clima propício a desestabilização do governo e a preparação de um golpe de Estado.

O consenso entre os militares em torno do golpe surgiu no dia 26 de março, quando ocorreu a chamada Revolta dos Marinheiros.

Na madrugada de 31 de março, para manter a ordem, o general Mourão Filho, comandante de Minas Gerais, conduziu suas tropas em direção ao Rio de Janeiro, com o objetivo de depor o presidente. Outros comandos militares o seguiram. Jango não esboçou reação. Do Rio de Janeiro, onde se encontrava, voou para Brasília e, de lá, para o Rio Grande do Sul. Mais tarde, exilou-se no Uruguai.

No dia 1º de abril de 1964, o Congresso Nacional declarou vaga a Presidência da República, embora João Goulart ainda estivesse em território nacional. No dia seguinte, o presidente da Câmara, Ranieri Mazzili, tomou posse como presidente da República.

Jango em Catanduva

Enquanto ainda estava na presidência, João Goulart esteve na cidade de Catanduva, no ano de 1962, o primeiro presidente a visitar a cidade.

Sua visita se deu por convite da Prefeitura Municipal de Catanduva para participar da I Exposição Agroindustrial e Comercial e do I Simpósio do Milho, que se realizou na cidade.

A visita aconteceu no dia 29 de setembro de 1962, chegando na cidade por volta das 15:00 horas, no Aeroclube de Catanduva, sendo recebido por grande multidão de pessoas que aguardavam sua pessoa.

Centenas de veículos estacionaram nas imediações do aeroporto, em posição de rumarem para a rua 24 de Fevereiro, por onde se deslocou o grande cortejo que acompanhou o carro presidencial, que teve o seguinte destino: avenida 24 de Fevereiro, rua Minas Gerais, rua Brasil e Parque das Américas, onde estava montado o palanque oficial.

Desfiles e inaugurações

Após a chegada ao palanque, foi realizado um grande desfile para a abertura da Exposição, que contou com a participação de várias instituições de Catanduva, como Colégio Nossa Senhora do Calvário, Instituto de Educação Barão do Rio Branco, Clube Pan-Americano, Ginásio Catanduva, entre outros.

Após o desfile, o presidente e sua comitiva se dirigiram para o local onde foi lançada a pedra fundamental do viaduto que liga o Higienópolis à cidade, passagem essa que receberia o nome de então presidente da República.

Após essas cerimônias, o presidente se dirigiu à casa do então prefeito municipal, Sr. Antonio Stocco, de quem foi hóspede.

À noite, o presidente, em companhia de alguns membros de sua comitiva, dirigiu-se para a Exposição, onde, junto ao portão, foram inaugurados os retratos dos senhores João Goulart e Carvalho Pinto.

Em seguida, o chefe da Nação presidiu a solenidade de coroação da Rainha do Milho.

Logo após, foi homenageado pela Prefeitura Municipal de Catanduva, pela Exposição e pelo Simpósio do Milho, bem como pelas entidades promotoras do evento. Foi-lhe entregue, também, uma medalha artística, em ouro, representando uma espiga de milho, como símbolo da nova campanha lançada em Catanduva.

Para finalizar o evento, foi realizado um grande banquete no Clube dos 300, com a presença de várias autoridades de Catanduva e região.

Nesse banquete, três foram os discursos que abrilhantaram a noite: um do prefeito municipal de Catanduva; outro do Governador do Estado de São Paulo; e finalmente, do Presidente da República.

Após o banquete, o Sr. João Goulart e comitiva compareceram ao Clube de Tênis, por volta das 23:30 horas, para assistir ao baile de encerramento do Simpósio do Milho e da Exposição.

Fonte de Pesquisa:

- Jornal A Cidade, de 29 de setembro de 1962.

Material pesquisado no acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

Foto do jipe onde estava o prefeito municipal Antônio Stocco e o presidente da República, João Goulart, quando este esteve visitando a cidade de Catanduva no ano de 1962. Nesta foto, rua Brasil próximo ao Parque das Américas

João Goulart já tinha visitado a cidade de Catanduva quando ocupava a posição de vice-presidente, no governo de Jânio Quadros. Nesta foto, em 17 de setembro de 1960, em inauguração do SAMDU – Serviço de Assistência Médica Domiciliar Urgente – temos, da esquerda para a direita: jornalista Nair de Freitas, vereador Gerson Sodré, comerciante Eliseu Mardegan, prefeito municipal Antônio Stocco e vice-presidente João Goulart

Palanque montado com presença de autoridades que assistiram ao desfile dos estudantes da cidade durante a 1ª Exposição Agrícola, Comercial e Industrial de Catanduva. Estão na foto o Governador do Estado Carvalho Pinto, o Prefeito Municipal Antônio Stocco, o Presidente da República João Goulart e a deputada federal Ivete Vargas, no ano de 1962

Alunos pertencentes ao Clube Pan-Americano vinculado ao Rotary Clube de Catanduva. A foto foi colhida no Clube de Tênis quando da visita do Presidente da República João Goulart, em setembro de 1962

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.