A Virada Cultural

“O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.” 

Constituição Federal de 1988, artigo 215 

 

Inspirada no festival francês Noite Branca (em francês: Nuit blanche), que acontece todos os anos em Paris desde o ano de 2002, a Virada Cultural foi criada em 2005 pela prefeitura do município de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. A ideia é promover 24 horas ininterruptas de eventos culturais, como espetáculos musicais, peças de teatro, exposições de arte e história, entre outros, em diversos pontos da cidade. 

A I Virada Cultural Catanduvense – uma iniciativa da Prefeitura de Catanduva por meio da Secretaria de Cultura, conforme Lei 6.210 de 04/10/2021 – é um projeto da vereadora Taise Braz, aprovado pela Câmara Municipal ano passado. Acompanhamos o processo e a Cia da Casa Amarela esteve presente na noite tão importante para a cultura, artistas e população catanduvense. 

O evento acontecerá no próximo final de semana, dias 3 e 4 de setembro, com várias atividades artísticas, com dança, música, contação de histórias, fotografia, oficinas culturais e exposições no Parque dos Ipês (Avenida Theodoro Rosa Filho, no dia 03), a partir das 9:00h, e no Teatro Municipal Aniz Pachá (dia 04), às 10:30h, quando a Virada Cultural será encerrada com a apresentação da Cia da Casa Amarela. 

Toda programação é gratuita e livre para todos os públicos. 

Esperamos que seja a primeira de muitas e que possa ser uma tomada de consciência do quanto a cultura deve ser democrática, ao alcance de todos! Evidentemente que essa experiência – como todas da área – poderá abrir possibilidades mais abrangentes no futuro para que se estenda de forma quantitativa, no entanto sem perder a qualidade. 

Muitos artistas catanduvenses e da nossa região estão iniciando num processo mais profissional que teve início, principalmente, com a Lei Aldir Blanc, de 2020, lei emergencial que atendeu a classe artística no momento da pandemia. Produtores, diretores, artistas e agentes culturais não tinham experiência e vivência em editais, projetos e leis de incentivo à cultura. Tiveram que aprender a conviver com isso para sobreviverem e hoje começam a ter uma maior participação no processo que todo artista deve exercer: o profissionalismo. 

A Cia da Casa Amarela já vivia essa realidade há muitos anos. São 27 anos de vivência profissional e desde 1995, quando foi criada, já se inseriu no contexto das leis, dos editais, dos projetos culturais governamentais seja no âmbito nacional, estadual ou municipal. Tivemos que aprender a fazer projetos, lidar com planilhas, burocracia e com prestação de contas etc., o que nos levou a adquirir cada vez o senso de profissionalismo e nos afastar, sempre e mais, do caráter limitado dos conceitos meramente pessoais. 

Isso implica exatamente em quê? No fato que a consciência profissional do artista o induzirá, naturalmente, a buscar a qualidade e melhoria do seu trabalho em todos os aspectos. O público será beneficiado, logicamente, com produções melhores, com conteúdo mais significativo, enfim, será um processo de grande crescimento que ajudará a transformar a sociedade, sedenta de arte e cultura! 

A Arte transforma. Sim, repetimos isso aqui constantemente. Porque é um conceito preciso e que precisa fazer parte de nossas vidas como algo natural e permanente. Grandes líderes descobriram na cultura uma forma de crescimento amplo para as nações. Investir em cultura é ter mente aberta e visão de futuro. Investir nos artistas é sensibilidade que poucos têm. 

O artista precisa ser cada vez mais valorizado e a cultura não poderá ser sucateada, em circunstância alguma. Precisa abrir os horizontes com uma política cultural que transforme o entretenimento também em manifestação humana profunda, numa discussão séria, em reflexão necessária sobre a sociedade em que inseridos e como é possível se utilizar desse instrumento para construir um futuro melhor, mais belo, mais colorido e mais produtivo em todos os sentidos.

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.