A vida que vale a pena ser vivida

Vivemos em tempos em que o vazio existencial, a solidão e a depressão são experiências comuns para muitas pessoas. Há um crescente desinteresse pela vida, e para alguns, o desejo de sumir ou desaparecer se torna uma constante. A sensação de que a vida perdeu seu sentido é cada vez mais comum, e, infelizmente, para muitos, esse vazio pode levar ao suicídio, que é um tema de grande urgência no cenário atual. Quando a vida parece não ter sentido, a dor psíquica se intensifica a ponto de a morte parecer uma solução.

Esse tipo de sofrimento não é novo. A cada era, a humanidade enfrenta desafios internos que definem o mal-estar coletivo. Na época de Freud, a neurose predominante era a histeria; para Adler, era o complexo de inferioridade. Já para Viktor Frankl, a neurose moderna se expressa no vazio existencial. Trata-se de uma crise de sentido, uma busca incessante por algo que dê significado à vida, uma pergunta que, desde a Grécia antiga, já inquietava os sábios.

Um desses sábios foi Epicuro, muitas vezes mal compreendido como o pai do hedonismo, que prega a busca incessante do prazer. Porém, Epicuro defendia uma ideia mais sutil e profunda: o verdadeiro prazer está na simplicidade. Para ele, entregar-se aos excessos leva a uma insatisfação crônica, pois à medida que nos acostumamos com os prazeres intensos, perdemos a capacidade de apreciar o que é simples.

Em outra perspectiva, os cristãos defendem que a vida que vale a pena ser vivida é aquela pautada no amor ao próximo. A vida ganha sentido no perdão, na caridade e no desprendimento das coisas materiais. O ato de diminuir o sofrimento no mundo não só transforma a vida de quem recebe, mas também enriquece profundamente quem dá. Ao fazer o bem, há uma troca: o outro ganha uma vida melhor, mas quem pratica o bem experimenta uma alegria imediata, uma paz interior que transcende o momento.

A falta de sentido, que muitas vezes leva ao suicídio, surge quando nos desconectamos de nós mesmos e dos outros. Ao reconhecer a importância de um propósito, ao cultivar laços e estender a mão ao outro, podemos não só prevenir a perda trágica de vidas, mas também redescobrir o verdadeiro sentido da existência.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp