A verdade é viva
Tenho uma teoria. Esta: A verdade não é mera descrição formal da realidade. Ela é sua própria força de manutenção. De modo que a mentira, então, não é uma simples oposição abstrata à tal descrição: ela é um enfrentamento energético, adverso e dialético à toda a estrutura do real.
Cada vez que uma mentira é contada, uma tensão comprime e desestabiliza a própria realidade, deformando-a temporariamente. Esta tensão, porém, cria uma força de recuo e oposição, como numa mola, cuja potência necessariamente contra-avança em direção à mentira a fim de rearmonizar e reequilibrar a realidade. Esta reestabilização é, não raro, explosiva, traumática e, nas palavras do Evangelho, “causa de escândalo.”
Por que? Porque, como dizem os franceses, “Chassez le naturel, il revient au galop” | “Expulsai a natureza, ela voltará à galope.” Por sua vez, São Paulo apóstolo resumiu a força restabelecedora da verdade ao ensinar que “nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.”
A verdade é a super-estrutura do super-ser da realidade. A mentira é uma inadequação artificial que não se encaixa perfeitamente e, por isto, como micro-engrenagem, dura até que o macro-maquinário lhe estoure.
Mentir é ofender este organismo cujos anticorpos (os acontecimentos) logo tratarão de esmigalhar a folia e o folião, a fantasia e o fantasiado, a farsa e o farsante.
Deus é o pai da verdade. O diabo, o da mentira. Deus criou tudo. O diabo, quer recriar o nada. A força que o cosmos ordenador exerce sobre o nada caótico é a mesma força que a verdade exerce sobre a mentira.
Tudo isto para fazer voz uníssona com o caipira e berrar: mentira tem perna curta! Mas não é que ela tenha por si perna curta: é que, Procusto às avessas, vem a verdade e amputa a perna-de-pau até o limite sanguinolento do cotoco…
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