A troça do mundo é nossa

 

Li duas pesquisas curiosas. A primeira é que constataram que 51% dos brasileiros não estão interessados na Copa do Mundo de futebol masculino, promovida pela FIFA, que se realizará no Qatar em novembro. O desinteresse dá para explicar facilmente. Falo por mim. 

Lembro-me da Copa do México, em 1970. Tinha 6 anos. Eu, meu irmão Ramez e o meu vizinho e irmão do coração Joãozinho só estávamos interessados em brincar com os rojões já descartados. Gritávamos gol sem entender direito o que estava acontecendo. Acompanhar para valer, foi a partir da Copa de 1974, na Alemanha “Ocidental”, onde o Brasil chegou favoritíssimo e perdeu. Desde então, eu sei dizer o nome dos titulares, da maioria dos reservas e o time de onde veio. Quer dizer, sabia.

A última Copa que acompanhei com mais interesse foi em 2002. Depois disso, começou um desfile de nulidades. Jogadores que nunca ouvi falar. Boa parte deles ou nunca jogou no Brasil ou teve uma passagem efêmera pelas alcatifas verdes do país. Não criaram uma identidade com a torcida.

Uma coisa é o torcedor se orgulhar dos jogadores do seu clube predileto que estão na seleção. E reconhecer os dos outros times. Outra coisa é termos titulares que jogam em clubes de nome impronunciável, em países em que a grande maioria sequer sabe que existe. Não cria apego. Nem interesse. 

A segunda pesquisa aponta que 54% dos brasileiros acreditam que nós seremos os campeões no Qatar. Vivemos de lembranças. Cada vez mais distantes. Nossa seleção está na descendente. Ficou no passado a célebre frase motivacional do Zagalo: “quando entra a camisa canarinho em campo, todo mundo treme”. Não mais.

Os interesses escusos dos dirigentes, a ganância dos agentes dos jogadores e o desleixo dos líderes em campo não são bons ingredientes para vitórias. Os amistosos contra seleções de peso cada vez mais são raros. Atualmente não se ganha mais campeonato no grito. Tem que treinar, estudar os adversários, entrar em campo e jogar bola. Muita bola. Jogar com garra. Com vontade absurda de vencer. Os adversários ainda respeitam um pouco a seleção por ela contar com alguns jogadores sérios e pelo passado. No entanto, quando ela é melhor na propaganda do que no jogo, a coisa vai mal.

Já se foi o tempo em que se decretava uma vitória antes do campeonato. “O Brasil é campeão. Pronto. Ninguém discute”. O chato é que quando perde, fica um clima horrível. Primeiro desmerecem o adversário. Atribuem a derrota a fatores externos ao campo. Não se admite que o outro foi simplesmente melhor. Depois parte-se para tentar o tapetão. E finalmente, buscar os culpados. A única certeza é que sobra a vaidade, a empáfia e a arrogância. Exemplo disso é que o sete a um não serviu para nada. Continua tudo igual. Triste destino. Virarmos motivo de piada!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.