A transcendência e as comemorações

A vida contemporânea nos leva a correr mais do que o relógio nos pede na tentativa de dar conta de tudo num corre-corre ligado a uma maneira de sentir o mundo ou de fugir do contato com ele.
Quando Freud descobriu a maneira de pensar aspectos da vida cotidiana a partir da esfera do “eu”, que pensa a própria existência e nos coloca em contato com questões subjetivas, reinauguramos um novo sentido capaz de transpor o curso do desconhecido que nos comunica o quanto sabemos pouco de nós mesmos e o porquê tomamos algumas atitudes em vez de outras.
É interessante quando encontramos algo que nos faz sentido sem minimizar a grandeza do que está dentro de nós e que foram aquisições por meio do acessar-se descobrindo para o que de fato nascemos e o que nos move.
A transcendência é a capacidade de superar as adversidades e obstáculos indo além do estado atual, e pode ser descrita como uma conexão com algo mais elevado e com significado maior do que o próprio ser.
No entanto, a experiência da existência é individual e a única maneira de lapidarmos o próprio comportamento que, na liberdade, deve ser pensado a partir do que temos dentro, e mesmo quando necessitamos utilizar recursos ideológicos de fora como por exemplo as religiões, se não pensada a partir de uma escolha pessoal e na liberdade, corremos o risco de a utilizarmos como muleta ou para imunizar pensamentos que não nascem de um entendimento profundo de sentido humanitário.
O perigo em crer somente nesta maneira de vida é que colocamos nos outros decisões que deveriam ser individuais, e justificamos algumas atitudes sem ter disponível o quanto não se acessar com coragem para olhar as próprias atitudes pode comprometer a própria liberdade que o entendimento das coisas é capaz de proporcionar.
Penso que quando conseguimos entender isto, podemos agregar as coisas num sentido pleno que não implementa barreiras para estar com o outro, mas por meio dele, também podemos nos encontrar.
Viver é a grande experiência individual que temos de maior valia, e pensando na imensidão de sentido contido nesta experiência, e quando nos apropriamos disto, as comemorações existiriam como um dispositivo que agrega o próprio sentido da vida que nasce de um desejo de entender a própria trajetória humana.
Quando comemoramos alguma data expressiva, temos a oportunidade de entrar em contato com um sentido de existência sendo um grande diferencial seguir os exemplos daquilo que nos faz sentido e que comemoramos.
Seja no Natal, no Hanukkah, no Ano Novo, no Lozar, no Diwali, na festa das Vestes Novas, na festa da Peregrinação, na Páscoa, no canto dos Orixás, será sempre um momento para cada um olhar dentro, percebendo o que estas comemorações tem a nos comunicar, sendo uma oportunidade de reflexão, crescimento, renovação e busca de mais contato consigo próprio quando entendemos onde estamos e como podemos contribuir aos apelos universais de paz.
Boas comemorações a todos, até.
Música “That’s All” com Michael Bublé.
Foto do acervo #claudiazogheib
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