A riqueza do café catanduvense

Um dos produtos agrícolas que trouxe grande desenvolvimento e riqueza para Catanduva foi o café, considerado por muitos como o “ouro verde” da época.

O café foi trazido para o Brasil no ano de 1727, provindo da Guiana Francesa, por consequência do contato entre brasileiros e franceses, onde as primeiras mudas foram plantadas em Belém do Pará. Posteriormente, o café foi ganhando grande espaço em solo nacional, chegando ao Rio de Janeiro no ano de 1770, encontrando grande adaptação para o cultivo.

Vale lembrar que mesmo com o crescimento do cultivo de café nesta época, a cana-de-açúcar ainda correspondia à atividade econômica de maior peso na agricultura brasileira. Foi somente em 1820 que a cultura de café passou a ocupar o papel desempenhado pela cana.

Em Catanduva, um dos primeiros agricultores a plantar café foi o Sr. José Sartori, que já por volta de 1908, plantou os primeiros 40.000 pés de café na Fazenda São Francisco. Foi seguido pelo engenheiro Dr. José Ricoy, que também plantou em sua fazenda, a Fazenda Matão, a quantidade de 50.000 cafeeiros no ano de 1913.

Ao longo da década de 1910, o café foi ganhando grande destaque em nossa região, e já na década seguinte, se tornava o produto principal das grandes fazendas paulistas, inclusive em Catanduva.

A grande crise

No ano de 1929, o mundo todo sofreu com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que desencadeou uma crise mundial, gerando grande número de desemprego, além da falência de bancos e empresas.

O Brasil também acabou sendo afetado pela crise, e no que diz respeito ao café, o governo brasileiro, na época sob a liderança de Getúlio Vargas, precisou intervir.

Com medo da quebra dos cafeicultores e devido à queda dos preços do produto no mercado externo, o governo brasileiro aplicou um plano de compra e queima do café excedente, destruindo cerca de setenta milhões de sacas do produto, entre os anos de 1930 e 1937.

Comprando o café excedente, o governo injetava dinheiro na economia, estimulando a procura por produtos manufaturados.

Catanduva não fugiu deste acontecimento histórico: mesmo possuindo enormes armazéns onde se depositavam os excedentes de café da região, queimou-se café no município durante, aproximadamente, quarenta dias. A queima aconteceu em terrenos baldios da Vila Paulista, onde era possível observar chamas durante a noite e muita fumaça durante o dia.

Os Cafés Finos

Passado a crise, a produção cafeeira voltou a ser realizada nas mais diversas regiões do Brasil.

Por volta de 1950, o excesso de café foi levando os cafeicultores a misturarem o café de qualidade inferior com o café de ótima qualidade. Por consequência disso, por exemplo, os

EUA, que se abastecia com o nosso café, passou a comprar cada vez mais o café provindo da África, fazendo apenas pequenas compras do Brasil.

Com o objetivo de mudar esse cenário econômico mundial, no que se referia ao café, o Sr. José Olímpio Gonçalves deu início à Campanha dos Cafés Finos, tendo apoio de Pio Corrêa e de Assis Chateaubriand. Catanduva se encontrava numa posição especial no que diz respeito à campanha, já que seu café sempre fora de superior qualidade, além de possuir modernas máquinas eletrônicas para a colheita do produto, chegando a ser conhecida como a cidade dos Cafés Finos.

Ao longo da caminhada, várias medidas foram sendo tomadas para se chegar próximo à perfeição cafeeira, tanto na questão do plantio, da colheita e do armazenamento. Todas as etapas começaram a serem totalmente trabalhadas para se chegar ao resultado esperado.

Catanduva entrou de corpo e alma nessa campanha, levando a sério a necessidade de cada vez mais produzir melhor para se ter ótimas condições de vendas.

De acordo com o jornal A Cidade, de 27 de janeiro de 1957, este relata que Catanduva e toda sua região, composta pelos municípios de Tabapuã, Urupês, Ariranha, Pindorama, Itajobi, Santa Adélia, entre outras, “(...) dão a São Paulo e ao Brasil outro sadio de patriotismo, comprometendo-se a fazerem a colheita em pano, além de dispensar, como na safra anterior, um tratamento excepcional a todas as fases que tem de passar o café – desde a colheita em pano até seu benefício e catação”.

Novos rumos

Com o passar do tempo, o café foi perdendo seu espaço para outros gêneros agrícolas, como amendoim, milho, mamona, laranja e, principalmente, a cana-de-açúcar, que com a chegada dos portugueses passou a ser produzida em território nacional.

Para se ter uma ideia do decréscimo do café e do aumento do cultivo da cana-de-açúcar em Catanduva, no ano de 1974 a produção de café situava-se em torno de 4.800 toneladas, enquanto a cana-de-açúcar atingia a marca de 150.000 toneladas. A própria produção de milho era maior nessa época, que chegava a 7.200 toneladas e o amendoim com 3.750.

Nos dias atuais, praticamente todas as propriedades de nossa região deixaram de lado o cultivo de café e se dedicam ao cultivo da cana-de-açúcar, no qual vendem o seu produto para as usinas regionais. Muitos fazendeiros ou pequenos produtores arrendaram suas terras para as usinas, onde estas se encarregam de cultivar a cana-de-açúcar, a nova moeda agrícola.

Fonte de Pesquisa:

- Acervo do Centro Cultural e Histórico Padre Albino

Fotos:

Com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, desencadeou-se um crise mundial, afetando de forma agressiva a economia dos países, inclusive do Brasil. Como medida, o governo brasileiro aplicou um plano de compra e queima do café excedente, para tentar controlar um pouco a situação. Nesta foto, vemos a queima de café na cidade de Santos, no início dos anos de 1930

Dos anos 70 para frente o café foi perdendo espaço em nossa região, mas ainda conservava algumas pequenas plantações, como mostra a foto acima. Nela, datada por volta da década de 1980, vemos o Aeroclube de Catanduva a atrás dele vários pés de café, onde hoje se encontra uma ampla avenida e várias residências do bairro Agudo Romão

Foto tirada em 1956 por conseqüência da Campanha de Cafés Finos. Nesta ocasião, no jardim da Praça da República, Assis Chateaubriand plantou um pé de café em ato simbólico da campanha. Na foto estão, entre outros, Salim Záckia, Assis Chateaubriand, João Batista Ferreira e José Júlio Felício

Foto tirada na Fazenda São Sebastião, em 1961, de propriedade do Sr. Olímpio Gonçalves, em ocasião da visita de 39 estagiários da Escola Superior da Guerra para visitarem lavouras de café em Catanduva. Na foto temos, da esquerda para a direita: Euclides Pereira, presidente do Aeroclube; Antônio Stocco, prefeito municipal; General de Divisão Armando Vila Novas Pereira Vasconcelos; Constante Frederico Ceneviva, presidente da Câmara Municipal de Catanduva; José Olímpio Gonçalves, presidente do Sindicato Rural e Benedito Pio da Silva, gerente do Banco do Brasil

 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.