A Psicanálise e o Teatro

O mundo é um palco, e todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram e saem de cena, e cada um no seu tempo representa diversos papéis.

W. Shakespeare

A psicanálise e o teatro estão constantemente diante de um impasse fecundo.

Quando fecham as cortinas do palco e da sessão de análise, ambos se veem na urgência inquieta que exploram associações provocadas perante aquilo que se passou.

No teatro, a ação humana se apresenta frente ao embate que produz conflito enquanto que na psicanálise, é o próprio homem que enfrenta suas lutas que necessitam nascer para a cena. 

Ambos convivem numa relação de proximidade e subsistem enquanto se olham individualmente acionando os mesmos engajamentos e comprometimentos. Não são apenas representação do sujeito, mas se apresentam dilacerados e submetidos num questionamento de valor e angústia, provocam.

No teatro e na psicanálise a expressão contida no ritual serve de linguagem que tenta nos comunicar algo, e ambas nasceram de uma necessidade de traduzir sintomas perante devaneios individuais e coletivos que excederam a própria capacidade de existência. 

Enquanto na psicanálise existe uma contribuição para a transmutação de situações ficcionais relacionada ao espaço do inconsciente, que se propõe a escutar aquilo que ainda não se tornou conhecido, no teatro, o espaço onírico e plástico criado pelo psiquismo no ato da criação se apresenta provocando a mesma inquietude que experenciamos na sessão de análise, e mesmo se tratando de uma ficção, aciona mecanismos que encontra similaridade ante a dor. Os espelhos se convergem, e trazem à tona conflitos que nos permite adentrar questões reminiscentes enquanto somos a atuação de tudo o que não acessamos em nós mesmos: angústias e medos que estando num tablado nos inscreve na própria existência dos conflitos.

No pensamento individual não podemos desvincular o inconsciente e sua força, mas através de associações, conseguimos nos apropriar de nós mesmos à medida que podemos nos comunicar com o que ainda nos é desconhecido.

A tragédia está dentro de nós, e quando estamos diante de um palco a cena torna-se um combustível que potencializa o existente que não encontrou espaço para deixar vir: por medo, barreira ou destrutividade.

No divã, ativamos uma busca ao desconhecido adentrando o próprio inconsciente. No palco, vivemos a cena!

Música “Seasons of love” Rent.

Foto @piafrausoficial ©

Autor

Claudia Zogheib
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br