A paz que queremos e a terceirização da culpa

Quando nos damos conta do mundo caótico em que vivemos, em especial em cenas de violência e morte, quase que instantaneamente vamos às redes sociais bradar, gritar, ulular que o governo melhore a segurança pública, que a polícia seja mais incisiva, que o exército interfira, enfim, vemos os mais diversos tipos de reclames e lamentações, ressaltando é claro, que nas redes sociais.

Mas quantas vezes fomos agressivos com nossos filhos, amigos, maridos, esposas, enfim, com as pessoas que estão à nossa volta, quantas vezes surtamos e não conseguimos dialogar para resolver problemas do cotidiano, quantas vezes atribuímos aos outros a responsabilidade que é nossa, de forma compartilhada. É, essa é a famosa terceirização da culpa, em que eu, em meu douto saber, me abstenho de ser parte da solução, mas aponto os demais com partes do problema e no geral, não sugiro nada de útil e apenas aumento o discurso de ódio.

A paz que queremos não pode derivar de discursos muito amplos nas redes sociais como: “ No meu tempo, eu era isso, me chamavam daquilo, meus pais me bateram e hoje estou aqui, geração mimizenta”, na maioria das pessoas que estão falando isso, já denotam uma carga de traumas e tristezas e que por não conseguirem resolver em si próprias estes problemas, muito mais pelo preconceito de pedir ajuda, já que “homem não chora e mulher deve ser forte sob quaisquer circunstâncias”, achamos por bem reproduzir a mesma violência que vivemos como algo correto.

Neste mesmo ponto, chegamos às crianças e aí pergunto, quantas vezes nossos filhos deram sinais de que estavam sofrendo, de que estavam sendo o motivo de sofrimento de outros? Quantas vezes nos perdemos em discursos ofensivos e palavreados chulos ao lado de nossos filhos? Quantas vezes dedicamos tempo para uma conversa amigável, para nos divertirmos enquanto família, para construir um caminho de respeito mútuo em que o diálogo é presente?

Quantas vezes nós, professores, também deixamos de olhar o aluno que por vezes é problemático com um olhar de auxílio? Quantas vezes não pedimos para que ele faltasse nas aulas? Mas quantas vezes sentamos, tentamos ouvir o lado dele? Quantas vezes damos a possibilidade dessa criança expor o que vive e sente?

A violência não se manifesta apenas nas agressões físicas, mas nos pequenos comportamentos, nas pequenas ações e nas invisibilidades do cotidiano, que ao não serem notadas por nós, são por aqueles que realmente querem ser agentes do caos e lá estarão nossos filhos, alunos e quem amamos, nas mãos de pessoas inescrupulosas e que fomentam este caos e medo.

É necessária uma tomada de consciência, principalmente por quem tem comportamentos assim, olhar para dentro de si e buscar ajuda... sem culpabilizar ninguém a não ser a você mesmo, tentando melhorar. Buscando formas não violentas de resolver conflitos. Só assim a paz que queremos irá emergir.

Autor

Eduardo Benetti
Professor Recreacionista em Catanduva