A paz mundial

Há 55 anos, em 1969, a catarinense Vera Fisher, então com 17 anos, venceu o concurso de Miss Brasil. Não me lembro deste episódio especificamente pois tinha cinco anos. Mas lembro-me de que era um evento que provocava muitas discussões pois cada um tinha a sua preferida.

Desde sempre existiram concursos de beleza pelo mundo. Mas eram iniciativas isoladas. Pode-se dizer que, de forma mais organizada, começou com o Concurso de Miss América em 1921. Só participavam norte-americanas. Em 1951, a vencedora, Yolanda Beltbeze, por razões morais, recusou-se a posar de maiô para a propaganda do concurso. A principal patrocinadora da festa, os maiôs Catalina, retiraram-se do evento e criaram em 1952 o concurso de Miss Universo, com visibilidade global maior. Desde então, passou por altos e baixos. Chegou a ser o programa mais assistido nos Estados Unidos. Com o movimento feminista em ascensão, sua audiência caiu. Mesmo assim, a audiência do concurso supera um bilhão de telespectadores, sendo ultrapassado apenas pelas Olimpíadas e pela Copa do Mundo.

No Brasil, desde 1865 existem concursos de beleza. Eram iniciativas isoladas até 1954 quando teve como vencedora a lendária Martha Rocha, que segundo dizem, perdeu o Concurso de Miss Universo por ter duas polegadas a mais nos quadris.

Os países com mais vencedoras são os Estados Unidos (oito), a Venezuela (sete), Porto Rico (cinco) e Suécia (três). Seis países tiveram vencedoras em dois concursos, inclusive o Brasil, com Ieda Maria Vargas em 1963 e Martha Vasconcelos em 1968.

Muda de regra constantemente. Não proíbe cirurgia plástica. Não pede estatura mínima. Tem que ser da nacionalidade do país que representa e ter vencido a etapa nacional. Idade entre 18 a 28 anos. Não pode ser casada ou ter engravidado. Desde 2012, transexuais também podem concorrer.

Mas não fogem da ditadura da beleza praticamente impossível de ser alcançada. Apregoa-se um padrão estético inatingível a quase totalidade das mulheres. Isso acalentará o sonho de toda garotinha bonita de ser a princesa alta, loira, de cabelos lisos, magra e beleza radiante o que não corresponde à realidade. As lições que o concurso nos deixa é que tratamentos de beleza são miraculosos e que mulheres precisam de tempo, dinheiro e muito esforço para se manterem bonitas.

No entanto, nem tudo é beleza. Nas entrevistas, todas diziam que o livro de suas vidas era “O pequeno príncipe”. Uma vez perguntaram o porquê a uma das candidatas. Esta respondeu que era por causa da mensagem. Insistiram perguntando qual era a mensagem do livro no que a candidata retrucou: “no momento não me lembro”. Mas a parte que eu mais gosto na entrevista é quando perguntam o que elas mais querem. A resposta, decorada e padrão é que desejam a paz mundial. Eu também!

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.