A nova face do empreendedorismo paulista
Em 2021, quase 10 milhões de paulistas entre 18 e 64 anos estavam envolvidos com um negócio próprio, seja na criação ou na manutenção do empreendimento. É como se quase toda população da cidade de São Paulo ou todos os habitantes de Guarulhos, Campinas, São Bernardo do Campo, São José dos Campos, Santo André, Ribeirão Preto, Osasco, Sorocaba, Mauá e São José do Rio Preto fossem empreendedores. Esse número representa 31,4% do total da população adulta do estado. Caso São Paulo fosse um país, teríamos a quarta maior taxa de empreendedorismo estabelecido, à frente inclusive do Brasil (9,9%). A maior taxa foi encontrada na Coreia do Sul (16,4%).
Esse desempenho deveu-se aos empreendedores estabelecidos – com mais de 36 meses de atividade –, cuja sobrevivência aumentou. De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor São Paulo (GEM SP) 2022, a taxa desses empreendedores no Estado saltou de 10% em 2020 para 12,4% em 2021. Boa parte disso é reflexo da retomada da economia do Estado, cujo Produto Interno Bruto (PIB) foi superior ao índice do Brasil, puxado por TI, construção e setor financeiro. Exceto o último, os dois outros segmentos têm alta participação dos pequenos negócios.
São os sobreviventes à pandemia do Covid-19. Ao permanecer em atividade, esses empreendedores mostraram a importância do amadurecimento da gestão e comprovam a eficácia de três “vacinas” disponibilizadas no período: maior acesso a crédito, por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), ingresso em programas como Auxílio Emergencial e Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), e a implantação de tecnologias digitais – muito impulsionadas pelo Sebrae: 40,4% dos estabelecidos, 48,9% dos nascentes e 33,6% dos novos aceleraram a implantação de tecnologias digitais ou passaram a fazer uso dessas tecnologias.
O estudo, que é a maior pesquisa mundial sobre empreendedorismo, revelou também outro lado da moeda do empreendedorismo: a taxa de empreendedorismo inicial – com até 3,5 anos de atividade - apresentou uma leve redução de 21,2% (2020) para 19,2% (2021). E mudou a face dos que lideram um empreendedorismo inicial. Apesar de a maioria ainda ser formada por homens (53,8%), aumentou a participação das mulheres (46,2%, 1,6 p.p a mais), são jovens (47,2% têm entre 18 a 34 anos), estão mais escolarizados (42,7% têm ensino médio completo e 34,6% possuem o superior completo) e 41,1% declararam ter renda entre um e seis salários mínimos, ante 31,9% em 2020.
Os dados revelados nesse detalhado raio-X da atividade empreendedora apontam um movimento bem interessante do empreendedorismo paulista para os próximos anos: de um lado, os empreendedores por necessidade – 73% declararam que abriram um negócio para ganhar a vida; esse resultado é inferior ao resultado de 2020 (76%), mas ainda assim é um sinal forte de que ainda no ano passado a dificuldade de obter um posto de trabalho moveu boa parte desses empreendedores. E de outro lado, dos estabelecidos sobreviventes à pandemia, que querem fazer a diferença na sociedade, e que agora precisam engrenar o processo de competitividade.
Necessidade ou oportunidade; sonho ou única saída. Não importa a motivação. Estamos atentos a essas duas grandes faces do perfil de empreendedorismo detectadas pela pesquisa e temos promovido transformações em nossos produtos e serviços para atender as diferentes demandas desses públicos, fornecendo orientação, conhecimento de ponta, acesso à inovação e a mercados que permitam aos empreendedores transpassar a ponte entre o sonho e o sucesso do negócio.
Neste ano, em que completamos 50 anos ininterruptos de apoio ao pequeno negócio, nosso compromisso continua sendo este: estar conectado às necessidades dos empreendedores, consolidando esses empreendimentos em pilares do processo de reconstrução sustentável.
Tirso Meirelles
Presidente do Sebrae-SP
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