A Mesa de Sal

Estava lendo hoje um capítulo de um livro e uma passagem me chamou a atenção. Dois personagens conversavam, Sal e Linus Baker. Sal comentou que ele tinha uma mesa que usava para fazer uma coisa que amava: escrever. Observou que a mesa estava lascada, mas aduziu que não tinha problema, porque afinal de contas as coisas lascam e se quebram, mas continuam boas.

Linus, concordando, aduziu que as coisas quando quebradas ganham personalidade, e essas marcas seriam lembranças...

Esse trecho me chamou a atenção e me levou a refletir. As coisas (e as pessoas...) não se tornam ruins apenas porque não estão inteiras, porque parecem imperfeitas. Nem as ideias imperfeitas são ruins. São apenas pontos no caminho da reflexão, lugares por onde passamos para chegar à compreensão...

Assim como as ideias, as pessoas também são assim: estamos sempre em transformação e - acredito - para melhor. Então, se não apreciamos alguém é porque essa pessoa (ou, mais provavelmente, nós mesmos...) ainda não chegou a determinado ponto da sua jornada que permita que brote essa nossa apreciação.

Provavelmente o nosso próprio olhar é a verdadeira fonte da imperfeição (o defeito) que enxergamos nas coisas, nos fatos e nas pessoas.

Podemos olhar as coisas de uma forma mais generosa, otimista (e verdadeira?). Aquilo que parece "lascado", imperfeito, talvez seja apenas uma impressão que temos, e que nos leva a rejeitar ou reprovar o que está fora dos nossos estritos (e, portanto, falsos) padrões de perfeição.

Afinal, esse "lugar" no qual escrevemos os nossos roteiros de vida, com todas as suas circunstâncias e "lascas", estão sempre servindo de espelho para enxergarmos a única coisa que realmente nos compete mudar individualmente: nós mesmos.

Autor

Wagner Ramos de Quadros
É presidente da ARCOS e articulista de O Regional.