‘A mãe de todas as vozes’ e o ‘cantadô’
“Eu continuo pelo meu amor à profissão. Adoro o que faço, e a música me torna melhor, me alimenta.”
Gal Costa
Cantora, compositora e multi-instrumentista.
Perdemos nesta semana dois ícones da música e da cultura brasileira, personagens de grande importância para o nosso país: Gal Costa e Rolando Boldrin.
Gal Costa, a “mãe de todas as vozes”, segundo Nando Reis, foi uma artista inquieta, inventiva, inovadora, ousada e transitou por tantas áreas, em tantas fases diferentes, e nunca estacionou artisticamente no tempo. A constante inovação em seu trabalho, revela uma busca necessária e uma constatação de sua própria fala acima: “Eu continuo pelo meu amor à profissão. Adoro o que faço, e a música me torna melhor, me alimenta.”
Frase que vem de encontro ao pensamento do apresentador, cantor, músico, compositor e ator Rolando Boldrin: “já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque, Mário Quintana ou do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.”
Tão importante na nossa cultura regional, na nossa brasilidade, um grande divulgador de nossa essência interiorana, caipira, Rolando Boldrin foi um “cantadô” de São Joaquim da Barra, cidade do interior de São Paulo.
De forma simples e com tanta verdade, ele passava ao público lições de vida através de contos, causos e músicas regionais.
Ambos chegavam no coração das pessoas de formas tão distintas, mas com a mesma essência: a música e a cultura que salvam!
Quando Gal Costa cantou lindamente a música “Solar”, ao lado de seu compositor Milton Nascimento: “Venho do sol/A vida inteira do sol/Sou filha da terra do sol/Hoje, escuro/O meu futuro é luz e calor/De um mundo novo eu sou/E o mundo novo será mais claro/Mas é no velho que procuro/Um jeito mais sábio de usar/A força que o sol me dá.”, não poderíamos imaginar a atemporalidade da canção e ao mesmo tempo o quanto significa nosso momento atual, e a grandiosidade da cantora como inspiração que ainda é – e sempre será – para todos os artistas.
É esse amor à profissão de Gal Costa e à necessidade de manter a fé sem dar satisfação, como pontua Rolando Boldrin, que sintetizam o bem maior da cultura e sua importância nesse despertar iluminado do nosso país, saindo das sombras do velho mundo, pela força da luz da nossa arte.
Tempos novos que se inspiram em personagens tão diferenciados, que farão tanta falta ao Brasil, mas que deixam seu legado de luta, de verdade, de sensibilidade e de renascimento.
A música, como todas as formas artísticas, nos torna melhores. Navegando nos mares da criatividade e inspiração humanas, as artes podem resgatar e conduzir nosso país devolva a um porto seguro para retomar seu destino legítimo: a alegria do nosso povo.
Nossa homenagem singela a Gal Costa – que tivemos o prazer de assistir pessoalmente – e a Rolando Boldrin, pelos momentos tão lindos e encantadores que nos moveram tantas e tantas vezes. Que permaneçam na memória cultural de nosso país, eternamente.
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