A indústria da ignorância

“Se me perguntar o que é a morte! Respondo-te: a verdadeira morte

é a ignorância. Quantos mortos entre os vivos!”

Pitágoras 

Filósofo e matemático grego. (570 – 495 A.C.)

 

Você já se deu conta do momento caótico que vivemos, onde há um investimento cínico no triunfo da estupidez? Permanecer no escuro e afundar a sociedade, cada vez mais, nas profundezas da total ignorância é um ardiloso propósito de domínio das massas. Uma indústria muito bem arquitetada e aparelhada.

A contestação aos avanços da ciência e consequente negacionismo, bem como a fabricação constante e volumosa de fake news não só revelam o apreço pelo desconhecimento como também uma sede de poder que causa estragos que, tão cedo, não conseguiremos nos recuperar. Só Educação primorosa com todos os investimentos possíveis e Cultura podem alavancar o homem do poço profundo em que se encontra para a luz do Conhecimento!

Recentemente, na abertura dos Jogos Olímpicos, surgiu a polémica discussão entorno da chamada "festividade", em que pessoas, dentre elas drag queens, surgiram em uma mesa em um posicionamento similar ao do quadro A Festa dos Deuses, pintura do artista holandês da Idade de Ouro, Utrecht Jan Harmensz van Bijlert.

Os produtores do evento desmentiram que a cena representada A Santa Ceia, de Leonardo Da Vinci. O diretor da cerimônia, Thomas Jolly, se inspirou na obra Festa dos Deuses, de Jan Harmensz van Bijlert. Há fontes que lembram também que A Festa dos Deuses também tem sua versão no trabalho de Giovanni Bellini, terminado em 1514.

A ideia era fazer a grande festa pagã, ligada aos deuses do Olimpo. Simples. Mas, a lacração em altas vozes de indignação, criou uma polemica absurda, simplesmente porque essas pessoas não estudaram História da Arte e não o mínimo de compreensão de que, numa obra artística, sempre há referencias e objetivos que o artista não lança ao público sem razões.

O evento ocorre da França, país laico, onde cultura, história, educação, arte, diversidade, respeito às opiniões, direito de expressão, democracia e liberdade são levadas à sério! A abertura dos jogos olímpicos 2024 foi um banho de tudo isso, mesmo que não se admita ou não aprecie esse tipo de manifestação. Afinal, gosto é gosto.

Para completar o caos da ignorância de pessoas despreparadas que empunham microfones, apelando para supostas referências religiosas, que sobem aos púlpitos para vomitarem seus preconceitos e objetivos mais escusos, tivemos agora o caso da boxeadora argelina Imane Khelif que foi alvo de uma série de conteúdos enganosos sobre sua condição após vencer uma luta. Extremistas e fundamentalistas vociferando pelos quatro cantos que ela é uma mulher trans ou homem biológico.

Khelif foi autorizada a participar pelo Comitê Olímpico Internacional e não é uma mulher trans. O comitê emitiu um posicionamento em reação à desinformação produzida sobre a competidora, afirmando que ela cumpriu todas as normas médicas exigidas para estar em Paris e seu gênero e idade constam nos dados de seu passaporte.

Já o Comitê Olímpico da Argélia emitiu uma nota afirmando não haver nenhuma evidência de que Imane Khelif seja uma mulher transgênero. A entidade ressaltou que a atleta teve um desenvolvimento sexual que elevou o nível de seus cromossomos XY e produção de testosterona — características naturais do organismo masculino. 

Tudo tem resposta, há informação à disposição de todos, podemos checar todas as notícias, no entanto, a indústria da ignorância, conscientemente elaborada e mantida pelos extremistas, não quer que a sociedade tenha acesso ao conhecimento.

Quem se deu conta dessa realidade, só tem uma opção: cultura, conhecimento, informação e, acima de tudo, investir na Educação para um futuro em que a vida transcenda a ignorância, sinônimo de morte, tão bem colocado por Pitágoras!

Autor

Drika Vieira e Carlinhos Rodrigues
Atores profissionais, dramaturgos, diretores, produtores de teatro e audiovisual, criadores da Cia da Casa Amarela e articulistas de O Regional.