A impotência aprendida

A impotência aprendida ocorre em humanos e animais que sofreram repetidas experiências dolorosas ou traumáticas que não conseguiram evitar. Com o passar do tempo, a pessoa, ou animal, começa a se sentir impotente, à medida que seus esforços para escapar ou evitar a situação fracassam. Quando confronta uma nova situação, a pessoa ou animal nem tenta escapar ou evitar, daí o termo “impotência aprendida”.

Infelizmente, muitas pessoas estão em um relacionamento destrutivo, mas não tem ideia de que vivem essa dinâmica abusiva. Alguns abusos são óbvios, outros não. Alguns abusos podem ser vistos, mas são rapidamente retraídos ou imediatamente seguidos de uma interação positiva, de modo que deixam o destinatário confuso ou em conflito em relação aos maus-tratos. O abuso pode ser insidioso, velado, sutil, causando danos de grande alcance.

Quando a maioria ouve a palavra abuso, pensa na violência física, na agressão direta e explícita. Alguns abusadores são bastante flagrantes na agressão, e sua raiva é nítida para todos aqueles que tem contato com eles. Isso é abuso manifesto, fácil de identificar. No entanto, o abuso mascarado pode impedir as suspeitas. Ele usa a sedução, o carisma, a lógica, conquistando a simpatia enquanto habilmente vai ganhando vantagem.

Um abusador não começa um relacionamento fazendo comentários críticos, debochando, humilhando, insultando, ameaçando, perseguindo. O abuso é disfarçado em palavras amorosas, humilhações bem-humoradas, comportamentos passivo-agressivos, permitindo a escalada gradual do abuso.

O ciclo abusivo tem sido amplamente estudado, uma vez que os pesquisadores querem entender o apego que existe entre uma vítima e um abusador que dificulta sair da relação. A teoria do vínculo traumático explica como se forma esse forte apego emocional. Resulta de um tratamento abusivo durante um longo intervalo de tempo, com períodos intermitentes de gentileza ou compaixão. A vítima é tomada pela gratidão e reconhecimento pela misericórdia do abusador, e esses sentimentos positivos a aproximam mais dele. O abuso fica associado ao amor, formando uma rede de emoções emaranhadas.

Quanto mais tempo se vive em um relacionamento abusivo, mais impotentes se sentem as vítimas. À medida em que as tentativas de resolver o conflito, de coexistir pacificamente ou de escapar à punição fracassam, elas se sentem mais e mais capturadas.

Terminar um relacionamento abusivo será uma batalha, porém os benefícios de haver vivido o que viveu é ter experimentado o suficiente para saber exatamente o que serve ou não.

Autor

Ivete Marques de Oliveira
Psicóloga clínica, pós-graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Famerp