A história secreta do criador da Mulher-Maravilha

A primeira aventura da Mulher-Maravilha (WonderWoman) veio ao mundo no dia 21 de outubro de 1941, em plena Segunda Guerra, na revista All Star Comics #8. Portanto, ela completa, amanhã, 83 anos. Uma das primeiras super-heroínas das HQs, Mulher-Maravilha compõe a famosa tríade da DC Comics com Superman e Batman.

Mas a gênese da Mulher-Maravilha teve uma origem, no mínimo, bem mais bizarra do que a de seus pares. Embora um novo filme dela esteja nos planos da DC, ainda vai demorar um pouco, porém, a história de sua criação, por si só, mereceu um filme: Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas (2017) dirigido por Angela Robinson, baseado no livro A História Secreta da Mulher-Maravilha, de Jill Lepore.

O filme conta como o prof. William Moulton Marston, psicólogo feminista com artigos em revistas sobre empoderamento feminino e um dos inventores do polígrafo (o detector de mentiras – por isso a Mulher-Maravilha tinha seu “laço da verdade”) se interessou pelos quadrinhos de super-heróis e viu neles uma maneira de expor suas teorias e influenciar as meninas positivamente.

Entusiasmada por ter uma pessoa de tanto prestígio escrevendo quadrinhos, a DC lançou a poderosa Mulher-Marvilha. Vinda da oculta Ilha das Amazonas (mulheres guerreiras da mitologia grega), Diana Prince era uma semideusa. Ela vem ao conturbado “Mundo dos Homens” para trazer a paz e defender as mulheres. Além de Charles Moulton, como assinava o professor, as histórias também eram escritas por sua esposa Elizabeth e desenhadas por Harry G. Peter.

A Mulher-Maravilha lutava contra supervilões nazistas e outros perigos de um mundo em guerra e, subvertendo os papeis, ela era quem salvava o namorado em perigo. No entanto, ninguém percebeu, àquela altura, que Marston recheava as HQs com muito mais do que suas teses em prol do empoderamento feminino. Abundavam nelas referências aos fetiches BDSM (sadomasoquismo) do psicólogo: Diana estava sempre atada a cordas e correntes, ou a símbolos fálicos com estacas e foguetes, dos quais se libertava com sua força – ela, que vinha de uma ilha habitada somente por mulheres, o que renderia acusações de lesbianismo anos mais tarde, quando todas essas referências vieram à tona. Principalmente no livro “Sedução do Inocente”, do também psicólogo Fredic Werthan, que gerou uma caça às bruxas contra os comics nos anos 50 e o famigerado Comics Code Authority, uma autocensura da indústria.

Mas ninguém descobriu, então, o maior segredo do professor: sua vida dupla com suas “Mulheres-Maravilhas”, retratada no filme. Ele mantinha uma relação polígama envolvendo sua esposa Elizabeth, psicóloga e inventora, e Olive, uma ex-aluna que virou acadêmica e com as quais teve filhos. O trisal do psicólogo se tornou a inspiração para a Mulher-Maravilha (elas até usavam braceletes iguais aos da personagem, no lugar de anéis) e Olive foi a modelo para a Mulher-Maravilha.

A super-heroína teve altos e baixos nos quadrinhos, até ganhar uma série muito popular nos anos 80, com Linda Carter, além de inúmeras animações e dois filmes no DCU, com Gal Gadot. Está programada uma nova série pelo Max com as Amazonas, para introduzir a futura Mulher-Maravilha no remake da DC nos cinemas, com uma nova atriz.

Autor

Sid Castro
É escritor e colunista de O Regional.