A gente sabe como é?
Em entrevista à revista Trip, anos atrás, o ator Lázaro Ramos afirmou: “Eu não entendia que havia personagens que não eram oferecidos a atores negros”. Ele sentiu o preconceito na pele quando jovem e apresenta o programa Espelho, no Canal Brasil, abordando temáticas sociais, políticas e culturais, e traçando registro do pensamento racial do país há mais de uma década. Não à toa, foi no programa Espelho o último depoimento da psicanalista e escritora Neusa Santos Souza, que militou décadas contra o preconceito e pela igualdade racial no país. É dela o clássico da literatura militante negra “Tornar-se Negro”. Quem também já passou por lá foi o rapper Criolo, autor da música “Diferenças” – “A gente vê, a gente ouve, a gente quer. Mas será que a gente sabe como é?”. A atriz Taís Araújo, outra entrevistada, exteriorizou seu posicionamento a respeito da questão racial e confessou que o assunto não foi discutido em sua casa. Por isso, ela não sabia articular sua autodefesa. “Quando tive que enfrentar o mundo, me senti completamente despreparada”. Essa afirmação reforça a ideia de que a questão precisa ser abordada cotidianamente nas salas de aula, de modo a preparar crianças com todas as cores de pele para lidar com o preconceito. Seja racial ou quaisquer outros. Não dá para abordar tal tema apenas durante esta semana de conscientização, tampouco só amanhã, no Dia da Consciência Negra. Isso tudo é profundo demais para seguir, assim, superficial. À Trip, Lázaro também contou sobre um diálogo com seu amigo-irmão, o ator Wagner Moura: “Um dia Waguinho me disse: ‘Pô, só me chamam pra fazer bandido e nordestino’. Eu disse: ‘Ô, meu filho, você pelo menos tem dois. E eu, que só faço preto?'”. Apesar do bom humor, como não se chocar com essa realidade?
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