A fila dos idosos

Neste ano completei 60 anos. Não foi igual a quando eu era moço e ficava aguardando os 18 anos para poder tirar carta de motorista, votar e poder ir ao cinema assistir aos filmes proibidos para menores. A primeira coisa que aconteceu foi um monte de ligações telefônicas oferecendo o empréstimo consignado. Acho legal como esse povo sabe da minha vida. Talvez mais do que eu imagine ou pior, mais do que eu queira.

Um amigo, um pouco mais velho do que eu, enumerou as vantagens: transporte público gratuito, atendimento preferencial em bancos e supermercados, vagas prioritárias nos estacionamentos e preferência na fila da eleição. Se bem que com a abstenção crescente, daqui a poucas eleições, filas deixarão de ser um problema eis que é decrescente o número de eleitores que tem ido cumprir com a obrigação. Disse-me também que terei direito à meia entrada e isenção de alguns impostos. Preocupa-me o fato de que se estarei deixando de pagar alguma coisa, sobrará o passivo para outra pessoa. Odeio pensar que estou sendo um peso para alguém.

Recebi uma notificação no Facebook informando que me fazem companhia nos sessentinha os atores Keanu Reeves, Sandra Bullock, Nicolas Cage, Patrícia Pillar, Tarcisinho e a Denise Fraga. Os cantores Dinho Ouro Preto, Chico César e a Zélia Duncan. A jornalista Renata Lo Prette e a candidata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris. Bom, eu não sou nem cantor, nem ator, nem jornalista e muito menos político. Sei que ainda tenho bastante tempo para descobrir qual é a minha serventia.

Algo que já deu para aprender é que aos 60, dá para entender como o mundo funciona, quem são as pessoas que realmente importam e o que você quer fazer com seus dias. A cabeça, que vez ou outra insiste em esquecer onde deixei as chaves. A tecnologia, antes aliada fiel, agora me desafia em pequenas “batalhas”: senhas e atualizações. Os jovens com quem convivo continuam me socorrendo e ensinando, principalmente meus filhos, que traduzem pacientemente o que parecia ser intuitivo. Aliás, o pior de tudo é esquecer o nome das pessoas ou de onde eu as conheço. Estou aprendendo a disfarçar o constrangimento.

Não sei se é uma reação ou se é uma característica da idade. Embora o mundo esteja ficando cada vez mais complexo, tenho adotado hábitos cada vez mais simples. As exigências tem ficado mais prosaicas: não ser longe, ter estacionamento, não ter muito barulho nem muita gente. A pressa tem diminuído. Talvez o maior desafio seja olhar para o passado sem nostalgia e para o futuro sem ansiedade. Encontro em cada pequena conquista um motivo para agradecer. Aos 60, entendo que a vida é menos sobre ter respostas e mais sobre fazer as pazes com as perguntas que nunca terão solução. E talvez seja isso o que nos traz serenidade.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.