A Fé e a Educação como vocação

Catanduva sempre contou e, ainda conta, com a presença de homens destemidos e dispostos a dar o seu melhor em prol do desenvolvimento de nossa querida cidade feitiço. 

Um desses homens foi Giovanni Cesare Cauda, mais conhecido aqui na cidade como Padre César, italiano que dedicou boa parte de sua vida para a construção de um pensionato e o funcionamento de um colégio na cidade. 

Nascido em 6 de junho de 1923, na Província de Asti, no Piemonti, Itália, Giovanni Cesare Causa era filho de Cosmo Damiano e Giulia Battaglia. 

Ordenou-se como sacerdote no ano de 1948 e no ano seguinte, 1949, veio para o Brasil, fixando residência na cidade de São Joaquim da Barra – São Paulo. 

Nessa época, tinha ido Monsenhor Albino, na qualidade de Padre e Vigário de Catanduva, a Roma, e dentre outros assuntos, conseguiu a autorização da vinda dos Padres Doutrinários Italianos para a nossa cidade, e dentre esse grupo de irmãos estava, mesmo morando no Brasil, a figura do Padre César, que na época contava com apenas 26 anos de idade. 

Chegando aqui em Catanduva, em março de 1950, juntamente com os outros Padres Doutrinários, Padre César exerceu o sacerdócio na Igreja Matriz de São Domingos, não sabendo ainda que sua missão seria outra ainda maior: a fundação e a direção de uma escola em Catanduva. 

Para a realização dessa nova etapa, a figura de Monsenhor Albino mais uma vez se fez presente: com a autorização de D. Lafayette Libanio – Bispo Diocesano da época – Padre Albino doou um velho prédio existente na cidade, onde já tinha funcionado uma máquina de arroz, à Congregação dos Padres Doutrinários. 

Pensionato 

Com apoio da Associação Beneficente de Catanduva e do Dr. Renato Bueno Neto, além de contar com toda a disposição de Padre César Cauda, nasceu o então chamado Pensionato Dom Lafayette, surgindo os primeiros alunos do Curso Primário em 1952, e onde, oito anos mais tarde, passou a funcionar também o Curso Ginasial, recebendo apenas matrículas para meninos, pois, nessa época, para as meninas, existia o Colegião. A presença de meninas na escola só passou a acontecer a partir de 1969. 

Em 1973, sempre com muito entusiasmo e dedicação, continuando com incentivo dos professores e amigos da escola, foi instalado, também, o Curso Pré-Primário. 

As primeiras professoras do Curso primário foram D. Luzia Salgado, D. Daria Dias Figueiredo, D. Anna Bolinelli (que também exercia a função de Diretora) e D. Lídia Maria Peroza. Padre César Cauda ficava na coordenação. 

Quando chegou em 1988, a escola atingiu o número de mil alunos matriculados, e cumpriu-se uma promessa feita pelo Padre César: a escola passaria a se chamar Colégio Jesus Adolescente.  

Morte  

No dia 10 de maio de 2002, foi celebrada na Catedral Santuário Nossa Senhora Aparecida uma Missa em Ação de Graças pela passagem dos 50 anos do funcionamento da referida escola.  

Padre César não esteve presente, pois desde 1997, por problemas de saúde, havia retornado à Itália. 

A cada mudança que a escola recebia, a direção informava detalhadamente para o Padre César, que, infelizmente, no dia 6 de junho de 2005, a escola e a cidade de Catanduva receberam uma triste notícia: Padre César falecia, na cidade de Torino, Itália, aos 82 anos de idade. 

Cine Penca  

Um dos alunos da 1ª turma de matriculados no colégio e que depois também atuou como docente foi o nosso querido amigo e professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli. 

Ele relembra que dentre tantas coisas que o Padre César fez aqui na cidade e que marcou um pouco sua história foram as sessões de cinema exibidas no colégio, algo que eles chamavam de Cine Penca. 

“O Padre César inventou uma fórmula para arrecadar semanalmente algum numerário. 

A invenção era simples: a projeção de filmes no salão que existia nos fundos do Pensionato. Arriscou novas despesas, montou o salão, comprou as cadeiras, máquina e começou a funcionar com filmes alugados do Sr. Júlio João Trida. Inicialmente aos sábados e domingos, para, posteriormente, exibir às quartas-feiras, além da matinê de domingo. 

Como havia uma máquina (projetor) só, a cada parte do filme havia uma pausa para a troca do rolo, oportunidade que era aproveitada pelos frequentadores para sair ou comprar balas. E dessa forma, funcionava o cineminha, que os frequentadores apelidaram de Cine Penca, derivado de Pensionato e porque sempre estava cheio de gente. 

Antes de iniciar as sessões, ou nos seus intervalos, o Padre César anunciava , lá da cabine, os próximos filmes. E todo mundo gostava de ouvir que seria um filme de Roy Rogers, Tarzan, Gordo e Magro ou os Três Patetas. 

O salão era pequeno e com capacidade para umas 160 pessoas. Sempre lotado, às vezes com gente até nos corredores, mantinha uma freguesia firme que não faltava às sessões. O preço era bem camarada e nas matinês ainda valiam os 'cartões do catecismo' (que era uma forma de puxar a meninada para as aulas de catecismo). 

Muitas coisas interessantes aconteceram durante seus sete anos de funcionamento. Uma delas era as broncas da assistência quando o mocinho beijava a mocinha ou quando apareciam artistas com as pernas de fora ou com “pôca rôpa” e o Padre César ficava passando a mão na frente da lente de projeção.

Outra era a forma encontrada pelos moleques de entrar sem pagar, pulando as janelas, depois de terem pulado o muro, entrado na cozinha, bebido água ou vinho e comido alguma coisa gostosa que estava na geladeira, ou entrando no “bolo” quando o pessoal voltava para a 2ª parte do filme.

Além disso, quando o tempo estava chuvoso e o Padre César estava na cabine, bastava dar um trovão para que ele soltasse um “Santa Polenta” e descesse rapidamente as escadas deixando a máquina funcionando sozinha, até que alguém o substituísse. 

Tudo isso durou vários anos, com a plateia vibrando com os mocinhos, vaiando os bandidos, rindo com as notas foras das comédias ou chorando nos dramas. Mas um dia, tudo acabou. "A porta de entrada do Pensionato deixou de trazer os cartazes dos filmes”, relembra essa parte da história de Padre César o professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli. 

 

Fontes de Pesquisa 

 

 - Boletim Só 10, de outubro de 2007, de autoria do professor Sérgio Luiz de Paiva Bolinelli.

 

 

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Em 1952, tinha início o funcionamento do Curso Primário Dom Lafayette, em um barracão adaptado na esquina das ruas Maranhão e Recife. Essa foto é do projeto de remodelação do prédio, que passou a ter essas características em 1967  

 

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Padre César Cauda defronte ao Ginásio Dom Lafayette, um dos grandes responsáveis pelo funcionamento do local. Dente as inúmeras atividades desenvolvidas pelo padre, uma era o 'Cine Penca', que consistia na exibição de filmes com finalidade de arrecadar fundos para o colégio, com preço muito acessível 

 

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A foto foi tirada quando da realização de uma festa de cerveja em benefício do Colégio Dom Lafayette, no ano de 1968 

 

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Missa realizada em homenagem aos 30 anos de permanência de Padre César Cauda no Brasil, em 9 de setembro de 1979. Temos da esquerda para a direita os seguintes padres: José Valsânia, Édson Pátaro, José Seminatti Filho, César Cauda, Valdecir do Espírito Santo e Ernesto Ferrero 

Autor

Thiago Baccanelli
Professor de História e colunista de O Regional.