A famosa DR
Ao chegar ao consultório outra manhã encontrei o recado de uma mulher desmarcando uma consulta que ela havia agendado para o namorado. Algo que ela já fizera um mês antes. Está claro que ela deseja mudanças que solucionem os problemas do casal, mas ele não está tão disponível assim. Ela está assumindo responsabilidades do casal, enquanto ele tem outros objetivos na vida, outras prioridades.
Essa é uma realidade muito comum entre casais em busca de soluções para suas dificuldades conjugais. Muitas vezes a mulher está mais disponível e mais desejosa de resolver os conflitos e os problemas do casal. Mas é nessas condições que o conflito piora. O homem pode sentir-se diminuído pela ação da esposa. E fica sem saber o que fazer na posição submissa em que se encontra. Por isso sabota a ação dela, mesmo que também esteja insatisfeito com a situação.
Por outro lado, a mulher pode valer-se dessa coragem de tomar iniciativas para mostrar ao parceiro o quanto ela detém o poder na relação e o quanto ele está fragilizado. Pode ser também uma forma de vingar-se e demonstrar seu ressentimento.
Procurar ajuda para discutir questões afetivas e sexuais não é fácil para o homem em nossa cultura. “Discutir a relação” é um tópico que muitos homens tentam a todo custo evitar. O medo advém da expectativa da perda de poder na condução do relacionamento a dois (“ela quer mandar em mim”).
Muitas pessoas podem pensar que procurar ajuda significa ser incompetente para resolver problemas. Mas pode ser uma oportunidade de ser flexível, reconhecendo que todos somos seres interdependentes.
Existe também uma outra forma da mesma dificuldade. O homem telefona, marca a consulta, negocia o horário, parece estar disponível. No dia marcado, telefona e afirma que está com o escritório cheio de clientes, não poderá ir à consulta e precisa de outro dia e horário. Remarca, mas novamente não poderá ir; ele nem sabe onde estava com a cabeça quando marcou justamente aquele dia e horário, tão atarefado. E assim vai postergando. Mas ele já tem justificativas para dar em casa: ele tentou marcar, e não deu certo!
Não deu certo porque ele não queria que desse. Tanto fez que conseguiu adiar mais e mais a solução dos problemas. Mas como é esse mecanismo que permite que os homens adiem o que precisa ser modificado?
Fundamentalmente, esse mecanismo faz parte de um contexto doentio. É uma parte do processo negativo e destrutivo que vivencia. Concomitantemente, ele está cultivando um mecanismo depressivo, pelo qual vai provando a si mesmo que não merece coisas boas e que não pode confiar nas outras pessoas, mantendo assim, pensamentos circulares.
Postergar a solução de problemas é um mecanismo cognitivo irracional e neurótico. Isso fica mais evidente nos relacionamentos a dois devido à existência do outro que solicita e deseja ações conjuntas.
De forma geral, uma boa conversa sobre a necessidade de buscar a terapia conjugal pode ser o primeiro passo para a saúde do casal.
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