A Escolha

Você pode escolher o caminho mais fácil, o mais difícil e o de meio termo. Pode escolher a cor da roupa, a quantidade de açúcar e sal na sua alimentação, se vai pegar o caminho mais curto mas mais demorado ou o caminho mais longo mas mais rápido. Você pode escolher entre uma série de possibilidades objetivas, subjetivas, contraditórias, convergentes, complexas, simples...

Você pode escolher o cardápio do almoço tanto quanto qualquer condenado no corredor da morte pode escolher sua última refeição. Você pode escolher a música que vai ouvir, a série que vai assistir, a pessoa com quem vai falar, a carícia ou o beliscão que vai aplicar e em quem o fará. Você pode escolher aguçar ou embotar sua inteligência. Pode escolher desenvolver ou enterrar um talento.

Você pode escolher fazer terapia ou assistir vídeos de coachs. Pode escolher tomar remédios por conta própria ou marcar uma consulta. E pode, inclusive, ler as bulas desses medicamentos e aprender alguma coisa sobre interações medicamentosas. Você pode escolher ficar duas horas rolando o feed do Instagram enquanto defeca, urina ou mata tempo no trabalho. Você pode ler um artigo na Wikipédia sobre metrificação de versos ou compartilhar um meme engraçadinho sobre política.

Você pode escolher namorar por carência ou ficar sem alguém convencionalmente fixo, mas bem acompanhado de si, de Deus e de sabe-se lá quem lhe faz bem, ainda que não amorosamente. Você pode escolher assistir a uma palestra sobre Astronomia, comprar um telescópio doméstico e até mesmo acabar descobrindo alguma estrela inominada que você poderá batizar como bem quiser. Mas você também pode escolher ler o horóscopo do João Bidu e passar a semana inteirinha tentando encaixar (pura projeção psicológica) as aleatoriedades que encontrou naquela frase ambígua composta de poucas linhas e muito senso comum o mais genérico possível.

Você pode escolher o nome do seu animalzinho de estimação e pode, obviamente, escolher a espécie dele. Você pode escolher abrir a boca para arrotar, para cuspir e para xingar ou pode fechá-la diante de intempéries corporais e psicológicas. Você pode escolher varrer o chão todo sujo dos cacos de vidro do copo que você quebrou ou pode simplesmente varrer tudo para algum cantinho e deixá-los ali, por alguns dias, até que tenha ânimo suficiente para jogar o lixo que você criou na lixeira que você comprou na lojinha de R$ 1.99 por 35 reais.

Você pode escolher entre tantas situações, entre tantas pessoas, entre tantos entes e seres que... poderia escolher para além do viés polarizado que dita “ou isto ou aquilo”, “ou a ou b”. A escolha pode ser plural, singular, dual, positiva, negativa, ativa, omissiva, conciliativa. E tudo isto seguramente será ou bom ou mau. Porém, raramente uma escolha, a sua escolha, será neutra. Você pode escolher, inclusive, não escolher. Você pode se abster. Mas não será também a abstenção uma escolha que privilegia, ainda que apenas moralmente, um ou vários lados?

O que é o ser humano e o que ele faz? É quem decide, é quem delibera, é quem dispõe, é quem opta, é quem escolhe! Nosso destino consiste em escolher o começo e, então, sermos escolhidos pelo meio e pelo fim decorrentes. E se escolhermos primeiramente o fim, seremos necessariamente escolhidos pelo começo e pelo meio das situações que se engendrarem. Não é possível escolher o meio; este não depende, geralmente, de nós. Por isso, ao escolher, escolha com retidão de alma. Pense nas causas que você acionar e nos efeitos que sobre você com certeza reagirão. Quem escolhe, colhe.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor