A Entropia nossa de cada dia

Tudo está se dissolvendo, apodrecendo, deteriorando, arruinando, destruindo, consumindo, desorganizando, corroendo, desmoronando, enferrujando, desmanchando, pulverizando, desgastando, quebrando, desarranjando, sujando, derretendo etc, etc, etc. O Universo está sendo “mitigado”. Para usar a linguagem da Filosofia Grega, o nosso Cosmos (tudo o que é e está organizado no mundo) está perdendo o Logos (a força organizadora que mantém os entes e os seres) e, então, o Caos (o vazio, a bagunça sem sentido) está voltando. Tudo o que está em ordem está perdendo-se desta. É um processo permanente desde o Big Bang para o Universo e desde a concepção para nós humanos. Com o início começa o fim.

Este “sistema de coisas”, por assim dizer, é perceptível nos mundos físico e metafísico. No físico, olhe para sua pele, que a cada dia perde o tônus e ganha rugas; olhe para sua aliança, que a cada dia perde o brilho e ganha arranhões; olhe para seus eletrodomésticos, para seu automóvel, para suas roupas, enfim, bote os olhos em todo e qualquer objeto. Você perceberá que um dia eles foram novos, que alguns ainda têm meia-vida e que outros em breve serão trocados e jogados na lata do lixo. No metafísico, lembre-se das memórias quase perdidas que estão se tornando cada vez mais opacas; lembre-se das idéias e dos valores que se esvaíram com o tempo passando e já te transformaram em uma outra pessoa, quase irreconhecível; lembre-se de todos os seus sonhos, fés, ideologias, aspirações, enfim, aponte sua consciência em direção a todo e qualquer sentido existencial. Você perceberá quem um dia eles foram novidades, que alguns ainda têm um meio-termo ao qual você se apega e que outros significados em breve serão trocados e jogados no abismo do hipocampo cerebral.

Da Física à Genética, tudo isto é chamado genericamente de Entropia. Entropia é desordem. A desordem que, acontecendo, acaba por destruir o objeto e os objetivos, arrastando tudo e todos de volta à matéria original sem forma e vazia. Tudo volta a ser carbono na vala rasa dos depósitos de lixo e nas carneiras mais fundas dos cemitérios. “Pó ao pó, terra à terra, cinza à cinza”, nos adverte (e enterra) o mais clássico dos ritos fúnebres.

Tudo bem. Você já entendeu o que é a Entropia. Está consciente de que ela está trabalhando agora em cada parte do seu corpo e em tudo aquilo que você cheira, degusta, vê, ouve e toca. Chegamos, portanto, à questão principal: se temos prazo de validade, como qualquer produto na prateleira do supermercado, o quê você está fazendo para deixar (e levar) um legado que supere a destruição terráquea daqui do tic-tac do imanente e te catapulte à Eternidade, ao transcendente? Interprete esta “perguntinha” como quiser. Só não desperdice sua vida. Não seja uma estátua de sal no olho do furacão.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor