A Economia a serviço da devastação

Ainda sofremos com o assassinato de Bruno Pereira e Dom Pillips. Mas a realidade brutal que atinge os ativistas em defesa do meio ambiente vêm de tempos. Evidente que a atual gestão que ocupa o Palácio do Planalto não esconde seu desprezo pela proteção ambiental. Mas ela não é responsável sozinha pelos ataques à nossa fauna e flora.  

Num recorte constitucional, ou seja, a partir de 1.988, quem ocupa a Alvorada pouco ou nada fez para fortalecer os biomas brasileiros. Sejam eles Collor e Itamar que não cumpriram o acordo constitucional de demarcação dos territórios indígenas, Fernando Henrique com Eldorado dos Carajá, Lula com a traição da Reforma Agrária, Temer e Bolsonaro com o alinhamento canino com o agronegócio.  

Pelos menos nos últimos trinta e cinco anos a gestão fundiária pede socorro. Enganam-se aqueles que pensam que a negligência na proteção ambiental é mero descaso dos governos. Nada disso. Existe uma omissão comissiva em favor de setores econômicos que determinam os interesses dos governos.  

Simplificando: “quem paga a banda escolhe a música”. Atualmente, o agronegócio tomou de assalto a economia brasileira, e, isso resulta em impactos diretos no Sistema de Gestão Fundiária.   

Considerando apenas o bioma amazônico, de janeiro a dezembro de 2021, foram destruídos 10.362 km² de mata nativa, a dimensão é equivalente a metade do estado de Sergipe.   

Parte considerável da devastação identificada pelo Imazon, que corresponde a 29% de crescimento nos últimos 10 anos, certamente é para abrigar pastagem para proteção de proteína animal. Um dos principais itens do case de exportação das Commodities.  

Do outro lado dos números do mercado financeiro estão indígenas, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas e camponeses. Com suas culturas originárias e tradicionais resistem para manter as florestas em pé. Até quando não sabemos. 

Autor

Waldemir Soares Júnior
Advogado, colunista, palestrante, membro da 30ª Subseção de Direitos Humanos da OAB-SP e do Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural da Ufscar, e advogado de diversos Movimentos Sociais