A Desconhecida Excelência Potencial
Todo ser humano é único. Esta afirmação parece (e parece mesmo) ser mais um clichê adocicado e politicamente correto da motivação coaching. Mas não. É apenas mais uma das muitas verdades que, de tanto serem mal-usadas e repetidas ao cansaço por gente sem muita moral existencial, acabaram lançadas no espectro das idéias bonitinhas mas ordinárias do mundo Pós-Moderno.
Vivemos tempos contraditórios. Se por um lado fala-se muito das “grandes habilidades humanas”, sobretudo, ultimamente, mais daquelas ligadas à capacidade intelectual que produz tecnologia, por outro é gigantesco o ceticismo quanto à possibilidade humana de simplesmente melhorar o homem, e não apenas melhorar a existência humana. Estamos entre o conforto produzido pelas ciências, um conforto em si espiritualmente estéril, e o desconforto produzido pela alma ainda ansiosa de ser qualquer coisa além de um sistema digestivo ambulante e bem tratado.
Se todo ser humano é único, sua produção existencial deveria ser única. E não é. Não é mesmo. Há pelo uns cinco séculos marchamos em direção à padronização das massas. Ultimamente, o processo está muitíssimo mais acelerado e a massificação da massa está mais massificante do que nunca... O terrível feito que o Comunismo não conseguiu atingir (fazer todos iguais) tem obtido sucesso pela mão invisível do Capitalismo. Ambos são sistemas e ideologias materialistas, mas aquilo que o primeiro não galgou pela força dos gulags e da ponta das baionetas, o segundo obteve através do poder mercadológico dos preços sem valores e do marketing do “valha mais com a mais valia.” Resultado prático: a atual geração é clone de si mesma em tudo ou quase tudo.
Ora, se os indivíduos estão equalizados, isto significa que eles estão despotencializados. Estão sem o poder de afirmarem as qualidades especiais e únicas da própria personalidade porque suas personalidades estão amalgamadas às projeções coletivas, a modelos de vida vendidos, é claro, como o ideal a ser buscado. As indústrias (cultural, midiática, econômica, social e política, basicamente) da Pós-Modernidade engessam os espíritos até que eles se tornem estátuas uniformemente gastantes, ouvintes, assistentes, comprantes, relacionantes e politizantes -- homens e mulheres, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, de todas as raças, línguas, tribos e nações: tudo farinha do mesmo saco.
Caminhamos para a barbárie da caverna universal, onde até a ignorância já não é diversificada, mas trevosamente una, unificada numa única sombra de alienação. O abismo da oquidão coletiva, da vacuidade globalista, invoca o homem que, sem vocação individualmente autêntica, perde-se de si mesmo, sequer podendo tomar consciência de que ele, parafraseando o célebre poema de Henley, é co-mestre do seu destino, é co-capitão da sua alma. Não há mais vozes, mas a mudez de uma multidão que mal supõe ser imagem e semelhança do Todo Poderoso e, por isto, capaz de refletir a glória de seu potencial, seu potencial desconhecido.
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