A borracha é estratégica
A reportagem da edição de ontem sobre as demandas envolvendo produtores e sangradores da borracha natural parece diferenciada dentro da nossa cobertura diária. E realmente é. Apesar de transitarmos pela área da economia com alguma frequência, é raro trazermos como foco, no agronegócio, culturas que se diferenciem da cana-de-açúcar, devido ao seu predomínio regional. Mas a crise enfrentada por esses produtores e trabalhadores exige atenção especial da mídia, mas sobretudo das autoridades que detém poder para mudar o rumo das coisas. A região é cercada por seringais que garantem a subsistência para centenas de famílias e, de forma indireta, provavelmente a milhares. Sem contar que a borracha natural é um produto estratégico para a economia: ela é utilizada no transporte, indústria, material bélico e para cerca de 400 dispositivos médicos. Para inúmeras situações, a borracha natural é única. Isso porque a versão sintética, obtida do petróleo, possui quase a mesma composição química, porém suas propriedades físicas são viáveis para alguns manufaturados, mas são inferiores para luvas cirúrgicas, preservativos, pneus de automóveis, caminhões, aviões e revestimentos diversos. No cenário global, o Brasil é importador de borracha natural. Para um país que possui área incomparavelmente maior e apta para o plantio de seringueiras em relação aos demais países produtores, o déficit de produção significa, no mínimo, descaso para um produto estratégico de tão alto valor econômico-social. Se as reivindicações do movimento nacional de produtores e sangradores forem atendidas pelo governo federal, ainda que parcialmente, toda a sociedade será favorecida pelo possível aumento na produção, inclusive na região, que se destaca pela alta produção do produto. Serão mais pessoas empregadas nessa cadeia de produção, mais famílias fixadas no campo e toda uma engrenagem girando em favor da economia nacional.
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