A assassina

Durante a Dinastia Tan, na China do século IX, Nie Yinniang (Shu Qi), uma jovem educada nas artes marciais, volta para a casa da família depois de viver no exilio. Ela vive escondida, pois é uma justiceira contratada para matar tiranos. Ela entra em conflito quando recebe uma missão, de difícil escolha, do antigo mentor – eliminar um líder político de uma província militar, que é seu primo e no passado foi seu noivo.

As belíssimas locações campestres e a fotografia iluminada com cor de ouro trazem elegância para esse filme cult e poético do chinês Hsiao-Hsien Hou, que ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes – o longa foi indicado ao Bafta de filme estrangeiro e representante de Taiwan ao Oscar de 2016, sem ser selecionado na lista dos cinco finalistas.

Antes de assistir, saiba que o diretor realiza obras íntimas e lentas, e aqui repete a narrativa; tudo é muito demorado, com cenas minimalistas em câmera lenta e planos longos. Ele dirigiu diversos dramas nos anos 80, como ‘Um verão na casa do vovô’ (1984), e esse ‘A assassina’ foi seu último trabalho, onde também fez o roteiro e produziu; hoje está dedicado à produção executiva de filmes taiwaneses. ‘A assassina’ foi sua única investida no cinema de artes marciais – mas não há nada de ação, e sim é um drama sobre vingança repleto de flashs do passado. Há uma ou duas cenas de luta, mas rápidas e bem coreografadas, que aludem ao gênero milenar Wuxia, presente na literatura e no cinema - sobre conflitos em dinastias na China medieval com lutas marciais e espadas, trazendo heróis reais/mortais; no cinema chinês e de Hong Kong muitos filmes Wuxia foram feitos e se popularizaram nos anos 70 e 80, como a franquia ‘Shaolin’, e depois nos anos 2000 com fitas premiadas no Oscar, celebrado, por exemplo, pelo taiwanês Ang Lee em ‘O tigre e o dragão’ (2000) e o chinês Zhang Yimou em ‘Herói’ (2002) e ‘O clã das adagas voadoras’ (2004). Em ‘A assassina’, não há grandes efeitos visuais nem pirotecnias ou batalhas épicas, a proposta é outra, mais um drama familiar, com vingança e honra. E que traz um conflito interno da protagonista, uma jovem assassina que, sozinha, precisa se reencontrar para cumprir uma missão complexa, que é matar seu ex-noivo, hoje um governador dissidente numa província militar. Se gostou da trama e dos comentários, tente assistir, mas, de novo, é um filme para público específico, acostumado a narrativas lentas, em que imperam os elementos técnicos, e ao mesmo tempo em que nada parecer acontecer, tudo acontece. É um filme lindo, de cenários grandiosos, cores impressionantes e uma história trágica e cheia de dúvidas – recomendo. Em DVD pela Imovision ou na plataforma em streaming da Reserva Imovision.

A assassina (Cike Nie Yin Niang). Taiwan/Hong Kong/China, 2015, 105 minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Hsiao-Hsien Hou. Distribuição: Imovision

Autor

Felipe Brida
Jornalista e Crítico de Cinema. Professor de Comunicação e Artes no Imes, Fatec e Senac Catanduva