A arte de ser pai

Dorme agora.  

É só o vento lá fora. 
Quero colo! 
Vou fugir de casa. 
Posso dormir aqui com vocês? 
Estou com medo, tive um pesadelo. 
Só vou voltar depois das três. 
Meu filho vai ter nome de santo. 
Quero o nome mais bonito. 
Me diz, por que o céu é azul? 
Explica a grande fúria do mundo. 
São meus filhos que tomam conta de mim. 
Eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar. 
Eu moro na rua, não tenho ninguém. 
Eu moro em qualquer lugar. 
Já morei em tanta casa, que nem me lembro mais. 
Eu moro com os meus pais. 

 

 

Um pai encoraja seu filho a enfrentar seus medos. Um filho carente. Um filho revoltado. Um filho pede proteção. Um filho rebelde. A escolha do nome. Um filho questiona valores da vida. Um pai sendo cuidado pelos filhos. Divórcio. Abandono. Adoção. Rejeição. Inocência. 

Tais situações são retratadas na música e na literatura. 'Pais e Filhos', de Renato Russo, resgata diálogos e desnuda o dilema de que nós, enquanto jovens, nos achamos incompreendidos pelos nossos pais. Mas logo descobrimos que nós não entendemos nada da vida.  

Desvendar os segredos do mundo é mais fácil com apoio de um pai. A orientação de quem tem experiência facilita o traçado. Ser pai é ser exemplo, herói, ensinar caráter, respeito e honestidade, oferecer esperança e amar, sobretudo amar. Pai é quem acolhe, educa e ensina o filho a voar. É esta, inclusive, a missão que também tomei para mim.  

É esse pai que é homenageado pelo cantor Fábio Júnior em 'Pai' – aquele que, com amizade e firmeza, ensina seu filho a viver. “Pai, nos ensina esse jogo da vida, onde a vida só paga pra ver. Pai, você foi herói, meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo”.  

'O Pai' ainda ganha corpo e forma no conto de Machado de Assis, publicado em 1866. É um pai de 50 anos, cabelos brancos, rosto severo, enérgico, rugas na cara, olhos profundos e serenos, arrimo e imagem viva da consolação e do conforto da filha.  

No Dia dos Pais, lembro-me de histórias de tantos homens que acordam cedo, tomam ônibus para trabalhar, e lutam para dar existência digna para suas famílias. São pessoas comuns que querem proporcionar a seus filhos o melhor que puderem conquistar na vida.  

Também me lembro de inúmeros pais que anseiam por uma visita de seus filhos, nos asilos ou na solidão de seu próprio lar; daqueles cujos pais já cumpriram a missão de bem formar seus filhos e os protegem do céu; e, claro, do meu próprio pai, que tanto amo. 

 

Autor

Guilherme Gandini
Editor-chefe de O Regional.