A Arcos, a Política e Religião

Uma das características da sociedade com pouco desenvolvimento humano e social é a demonização da política, como se ela fosse intrinsecamente algo ruim. Esse tipo de atitude e visão é mais ou menos como propor que voar é ruim, pelo simples fato de que voando o ser humano pode fazer, lá de cima, algo ruim… Nada mais equivocado. Ora, um conceito básico da palavra “política” encontrado em uma superficial pesquisa na web é: “arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados”. Mas eu diria que a Política vai além: é a atividade da gestão da vida em sociedade de permanente busca da conciliação dos interesses individuais e coletivos, visando a garantia da dignidade da pessoa humana, a harmonia e a paz social. Não. A política NÃO É um mal em si. Aliás, certos detentores do poder querem que pensemos isso, afinal de contas, se as pessoas bem intencionadas não se envolverem com os temas da gestão da coisa pública, isso garante para eles, os mal intencionados, espaço livre para que façam o que vêm fazendo desde sempre: a apropriação da coisa pública para satisfação de interesses privados. Essa é a triste fotografia de grande parcela dos que se dizem políticos: são aqueles que, a pretexto de cuidarem do bem geral, como se fossem heróis da sociedade, são apenas vilões, que mentem, enganam, surrupiam e agravam a crise social. Eles não querem necessariamente o sofrimento do povo e a desarmonia social, mas esse é o cenário ideal para que eles se apresentem como instrumentos de mudança. É algo semelhante ao que acontece quando alguns religiosos se apresentam como os guias para o caminho do paraíso espiritual, e para isso extorquem os esperançosos fiéis. A Religião, como a Política, não é ruim. Ambas são instrumentos utilizados para a busca e construção da paz, a espiritual e a social. São áreas importantes, respeitáveis e (entendo eu) necessárias para a vida em sociedade.

A ARCOS – Associação e Rede de Cooperação Social – não é formada por um grupo ingênuo de pessoas. Ela é composta por dezenas de organizações da sociedade civil, algumas delas com décadas de existência, experiência e atuação fraternas. Tais organizações são a expressão, manifestação e exemplo do que de melhor existe na sociedade: o propósito genuíno de servir ao próximo, desinteressadamente. E é por isso que no Estatuto da ARCOS consta expressamente como Princípio a desvinculação com a política partidária e com a religiosidade sectária.

A ARCOS é o conjunto das entidades filiadas e, por isso, sua missão é enfrentar, em rede, os desafios pertinentes à sua estruturação, manutenção e melhoria dos serviços por elas prestados. Sua visão é transformar o Terceiro Setor, através do trabalho em rede. Seu propósito final é a defesa da dignidade da pessoa humana e a permanente busca da paz social. E para isso ela, ARCOS, se relaciona com todas as linhas religiosas, e também com o ateísmo, de forma igualmente e muito respeitosa, e por isso mesmo não defende qualquer bandeira de qualquer religião, mas apenas a única que permeia todas: a da dignidade da pessoa humana.

A ARCOS se relaciona com todos os setores da sociedade, e mantém com os Poderes Públicos uma ativa, propositiva e harmoniosa interlocução que possam conduzir a parcerias que a aproximem da sua missão, visão, e do seu propósito final. Quem conhece as organizações filiadas à ARCOS sabe do que eu estou falando. As entidades filiadas, tanto as que têm décadas de existência e realizações, como as que foram fundadas recentemente, são comprometidas com o ideal do serviço ao próximo a partir do princípio da Fraternidade.

Eu, que desde 2018 e ainda por mais alguns meses ocupo a sua Presidência, me sinto profundamente honrado e grato pela oportunidade, e me coloco à disposição de todos os que queiram conhecer esse trabalho social transformador não apenas da realidade concreta, mas da consciência das pessoas. Sou uma testemunha privilegiada da vocação fraterna do povo da região de Catanduva, e da atuação corretíssima dos gestores das organizações filiadas e dos dirigentes da Arcos.

Autor

Wagner Ramos de Quadros
É presidente da ARCOS e articulista de O Regional.