A águia não apanha moscas

Nossas companhias determinam, em regra, nossos pensamentos e sentimentos e, então, nossas ações. Assim, acostumados ao espaço vital que nos circunda, nos conformamos à média daquelas pessoas que orbitam nosso mundinho.

Há uma coleção de provérbios populares que ensinam que, com uma leveza brutal (leveza, pelo humor; e brutal, pelo realismo), como ensina a Escritura, “as más conversações corrompem os bons costumes.” Preparados para uma saraivada deles? Pois ei-los: “Não se dá pérolas aos porcos”, “O leão não ri com a hiena”, “Quem anda com porcos, farelo come”, “Passarinho que dorme com morcego acorda virado de cabeça para baixo”, “Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”, etc, etc, etc.

A Psicologia é clara: o ser humano, por instinto de sobrevivência, se adapta aos habitats que vão surgindo. É a velha e conhecida homeostase. Uma adaptação que pode elevá-lo, fazendo-o ascender a patamares de espírito mais nobres e elevados; ou rebaixá-lo, lançando-o de quatro na lama dos níveis mais pútridos da alma humana.

Gastar seu tempo (refiro-me ao tempo de qualidade, ao íntimo, e não ao social ao qual estamos obrigados por conta das convenções sociais de rotina) com gente de quilate existencial inferior é tornar-se inferior – é desgastar-se. Alinhe-se a pessoas preguiçosas e você acabará vagabundeando. Cerque-se de fanáticos e você logo estará vociferando contra tudo e contra todos. Congregue-se a indivíduos com maus modos cognitivos, que desprezam a Civilização, e você em breve estará embrutecido como um vândalo derrubando estátuas ou pichando obras de arte. Una-se a velhacos e você adotará a amoralidade como padrão de conduta, justificando maquiavelicamente todo e qualquer jeitinho que lhe traga benefícios.

Por caridade afetiva, você começa a fazer concessões de camaradagem até que, num dia como hoje, você olha para trás e percebe que se degenerou. Degenerou à imagem e semelhança daqueles que te influenciaram a não ser você. Degenerou, abandonando virtudes conquistadas à duras penas e abraçando vícios ganhos com facilidade. Você se olha ao espelho e nota que a imagem refletida é a de uma caricatura, metamorfoseada pelo contato excessivo com gente sem forma e vazia. O preço da integridade, da unidade de espírito, é a eterna vigilância.

Algum conselho para não sucumbir à turba, aos apelos histéricos e histriônicos da massa? Não cace moscas. O conselho, originalmente em forma de adágio, atribuído a Erasmo de Roterdã, é claro: pessoas com objetivos elevados não devem se [pre]ocupar com gente pequena tagarelando suas ansiedades e anseios subjetivos e... pequenos! O olhar apurado, as asas majestosas e as presas fatais da águia foram criados para grandes feitos. Deixemos as moscas para sapos e lagartos.

Autor

Dayher Giménez
Advogado e Professor