76 quilos
Nesta última segunda-feira, passei algumas horas da tarde conversando com um velho amigo do meu falecido avô Francisco. Falamos de tudo um pouco: passado, presente e futuro; de assuntos publicamente relevantes à banalidades particulares. Em dado momento, durante as idas e vindas do papo, ele me disse: “Desde que completei 21 anos, tenho o mesmo peso: 76 quilos. Nunca aumentou, nunca diminuiu.” Informação importante: hoje, ele tem 86 anos.
Um verdadeiro achado! Mesmo que dispensemos um certo exagero literalista levemente egóico nessas palavras, é impossível não conceber que, muito provavelmente, ele fala a verdade quanto a estes 76 quilos serem um peso médio que muito pouco deve ter flutuado nas últimas décadas. É preciso que eu acrescente uma outra informação: ele confessa manter praticamente a mesma e inalterada rotina há mais de 6 décadas. Há 60 anos, mais ou menos, ele come porções equivalentes nos mesmos horários e segue um check-list muito rígido de tarefas cotidianas. Conclui-se que ele ingere e gasta calorias de maneira equilibradíssima.
Todo este relato, obviamente, é muito distante da atual modernidade, quando, em todas as áreas da vida, tudo ou quase tudo se transforma drástica e dramaticamente, através de efeitos-sanfona aberrantes. E tal conjuntura inclui, naturalmente, talvez como exemplo mais banal, o peso com o qual a balança acusa não apenas os quilos a menos ou a mais que se avolumam ou encolhem no nosso corpo; mas inclui, sobretudo, nossa instabilidade existencial. Tudo é volúvel, inconstante, variável, impermanente, mutável...
Em uma época em que a ida a uma festa facilmente nos acrescenta as 7 mil calorias necessárias a contabilizar 1 quilo na pança, manter-se tão íntegro na dimensão morfológica e corporal implica, imperiosamente, ter uma unidade de espírito muito forte, muito densa, muito segura. Não tenho dúvidas de que a alma e o corpo deste senhorzinho são um exemplo da validade daquela sábia máxima romana: “Mente sã em corpo são.”
Vale também esta citação de Hipócrates, o pai da Medicina: “O homem saudável é aquele que possui um estado mental e físico em perfeito equilíbrio.” Na Era do Desequilíbrio, fica aqui registrado o curioso caso de um homem ponderado ostentando seus estáveis 76 quilos.
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