40 anos de uma revolução

Em novembro de 1982, Michael Jackson lançou o álbum mais vendido de todos os tempos: Thriller. Mais de 150 milhões de cópias vendidas. Uma obra que surgiu dentro de um contexto desfavorável. No início da década de 1980, a moda da discoteca e o aparecimento dos videogames estavam prejudicando o mercado fonográfico. Os consumidores estavam virando as costas ao disco de vinil e às fitas cassete. As novidades tecnológicas nos aparelhos de televisão e nos de videocassete foram se estabelecendo aos poucos, ganhando mercado gradativamente.

Michael Jackson e o icônico maestro Quincy Jones (o que dirigiu depois o videoclipe “We are the world” – 1985) perceberam que a idade de ouro musical dos anos 1970, já não existia mais. Essa situação crítica os levou a produzir um disco diferente. Jackson tinha a pretensão de transformá-lo no mais vendido de todos os tempos.

Em 1982, as gravações de Thriller duraram seis meses. Escolheram nove músicas, cada uma das quais poderia se sair bem como single. Sete compactos foram lançados em decorrência desta estratégia, todos eles, campeões de venda. O álbum influenciou não somente a música, como também a dança, a moda, os videoclipes e a televisão. No mesmo ano, Jackson estabeleceu novos horizontes para a produção de videoclipes, produzindo um curta-metragem de 14 minutos que foi lançado para promover a canção Thriller. Ele tinha monstros, zumbis e vampiros dançando. E um encerramento especial com um monólogo do ator Vicent Price, o “Mestre do Macabro” (1911–1993), que finaliza com uma longa e tétrica risada, que ficou tão famosa quanto o vídeo.

Thriller foi também um marco na luta contra a discriminação racial na indústria fonográfica. Jackson tornou-se o primeiro artista negro exibido na MTV, com o videoclipe de "Billie Jean". A canção "Beat It", fez rádios de rock, na época orientadas a um público essencialmente branco, tocarem a canção de um negro; e fez rádios de black music tocarem rock. Um feito inédito até então. Graças à receita gerada, a gravadora CBS foi capaz de lançar uma nova geração de artistas tais como George Michaek e Cindy Lauper, dentre outros, e também que as gravadoras e fabricantes de equipamentos de áudio lançassem um produto revolucionário: o CD.

O álbum mais vendido de todos os tempos ganhou oito prêmios Grammy, passou mais de 500 semanas na parada de álbuns da Billboard (37 em primeiro lugar). O passo de dança "Moonwalk" (algo como "passo da lua"), em que Jackson dança para trás só é comparável ao andar de vagabundo de Chaplin (1916), à sequência de Gene Kelly em “Dançando na Chuva” - (1952) e aos passos de Fred Astaire no filme “Núpcias Reais” - (1951). 40 anos se passaram. A obra e seus efeitos continuam presentes e atuais. Um raro exemplo de uma obra que nunca envelhecerá.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.