30 dias não são suficientes

Os dados referentes à saúde masculina no Brasil assustam. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a média da expectativa de vida dos homens brasileiros é sete anos menor que a das mulheres. Quem mais sofre com essa realidade são os jovens de 20 a 29 anos. A cada 5 mortes nessa faixa etária, 4 são de pessoas do sexo masculino.

Violência urbana e acidentes de trânsito estão no topo da lista de causas de óbitos entre os homens. Porém, um estilo de vida desregrado (consumo de álcool, tabaco e drogas, alimentação deficiente, higiene inadequada, entre outros) pode ser considerado fator de risco. A pouca ou nenhuma atenção aos cuidados periódicos com a saúde agravam ainda mais esse cenário.

Durante a pandemia, esse quadro se agravou. A taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens idosos foi de 58%, em relação a mulheres da mesma faixa etária, segundo dados do Ministério da Saúde. Uma porcentagem impressionante ao considerar que o país tem 4 milhões de mulheres a mais que homens. Dados do período revelam essa discrepância entre os sexos, não apenas em relação à infecção pelo vírus, mas também no que diz respeito ao combate ao câncer.

De acordo com o Sistema de Informação Ambulatorial (SAI), entre os anos de 2019 e 2020 houve uma queda de 21% nas biópsias e de 27% nos exames de sangue, dois procedimentos indispensáveis no rastreamento do câncer de próstata, o segundo mais frequente entre os homens. A pandemia afetou todas as áreas da saúde e do bem-estar humano, mas é evidente que prejudicou de maneira ainda mais sensível a população masculina.

Segundo especialistas, essa problemática existe porque homens não costumam procurar atendimento médico com frequência. Muitos deles esperam até que a enfermidade esteja provocando efeitos graves para procurar ajuda. Check-ups de rotina raramente fazem parte da agenda dos homens brasileiros de todas as idades. Diante desse cenário fica a pergunta: por que a maioria deles não se preocupa em seguir uma rotina de cuidados com a saúde?

Fatores culturais e familiares são dois dos motivos principais. Em grande parte, crianças e adolescentes seguem o exemplo dos pais. Enquanto mães dedicam tempo para acompanhar as filhas em consultas ginecológicas é raro ver pais levando os filhos ao urologista. Uma vez que esse hábito não é ensinado na primeira fase de desenvolvimento humano, dificilmente mudará durante a fase adulta.

Isso explica o déficit no cuidado com a saúde, que deve ser corrigido não apenas durante o Novembro Azul ou no Dia Nacional ou Internacional do Homem, mas sempre que possível. Ao restringirmos essa conversa ao mês de novembro, estamos correndo o grande risco de acreditar que 30 dias de cuidados com a saúde, por ano, já bastam.

O diálogo sobre a importância dos check-ups de rotina deve partir de todos os lados. O tema deve estar presente nas conversas cotidianas entre amigos, familiares e colegas de trabalho, de ambos os sexos, da mesma forma que conversamos sobre gripes, resfriados, dores no corpo, enxaqueca, entre outros sintomas e enfermidades.

Todos podem se unir à essa corrente do bem, pois temos um objetivo em comum: salvar as vidas daqueles que amamos. Identificar as doenças – não apenas o câncer de próstata – em seu estágio inicial pode ser a diferença entre o sucesso do tratamento e uma tragédia familiar. Não deixe para o ano que vem. Fale sobre isso hoje!

 

Dr. Altino José de Souza

Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Mato Grosso (Sindessmat)

Autor

Colaboradores
Artigos de colaboradores e leitores de O Regional.