25 anos sem João e Wilson

Há 25 anos, a música brasileira sofreu dupla perda. João Nogueira e Wilson Simonal. João foi um cantor e compositor de sambas. Sua obra sempre foi identificada por manter a tradição e autenticidade do gênero, eis que ele valorizava as raízes do samba. Várias de suas músicas foram gravadas por grandes intérpretes como Elis Regina, Clara Nunes e Alcione.

Nos anos 1970, junto com Alcione, Beth Carvalho e Martinho da Vila, fundou o Clube do Samba, um movimento que visava valorizar, preservar e renovar o samba de raiz e que acabou dando espaço a novos compositores e intérpretes do gênero. Mais tarde, o movimento criou um bloco carnavalesco de rua. Seus principais sucessos são “Espelho” (1994), “Poder da Criação” (1994), “Corrente de Aço” (1992), “Súplica” (1994) e “Clube do Samba” (1983).

Um infarto agudo do miocárdio o levou aos 59 anos, depois de ter feito uma carreira sólida e respeitada no cenário da MPB. Seu filho, Diogo Nogueira, seguiu seus passos e se tornou um sambista de renome. Seu legado permanece vivo por meio das novas gerações de sambistas e do apreço do público por suas composições.

Wilson Simonal foi um dos cantores mais carismáticos e populares da música brasileira nas décadas de 1960 e início dos anos 1970. Não se enquadrava especificamente num ritmo musical. Tinha um estilo próprio, alegre, dançante e altamente performático que era uma mistura de samba, bossa nova, soul, jazz e música pop.

Tornou-se um fenômeno de público e mídia, com programas de TV próprios, como o “Show em Simonal”, na TV Record. Seus maiores sucessos foram “Sá Marina” (1968), “País Tropical” (1969), “Está chegando a hora” (1966), “Meu Limão, Meu Limoeiro” (1966) e “Mamãe passou açúcar em mim” (1966).

Nos anos 1970, Simonal foi envolvido em uma grave acusação de colaboração com o regime militar, após um episódio em que teria utilizado agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) para intimidar seu contador. A acusação, que nunca foi totalmente esclarecida, provocou seu isolamento precoce pela classe artística e pela mídia. Rotulado como "dedo-duro", acabou sendo marginalizado, o que praticamente destruiu sua carreira, apesar de não haver condenação formal ou prova de colaboração política sistemática.

Sua obra ganhou novo destaque com a ascensão de seu filho, Simoninha, e a produção de documentários, como "Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei" (2009) e o filme "Simonal" (2019), que ajudaram a apresentar sua história para as novas gerações. Hoje, é reconhecido como um dos pioneiros da black music brasileira e como um artista injustiçado pela história. Morreu novo, aos 62 anos, de cirrose hepática. Passados 25 anos de suas mortes, as obras de João Nogueira e Wilson Simonal seguem vivas nas mãos principalmente de seus filhos.

Autor

Toufic Anbar Neto
Médico, cirurgião geral, diretor da Faceres. Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura. É articulista de O Regional.